Ao aceitar o convite para ser Ministro da Justiça, o juiz Sérgio Moro entra com os dois pés na política. Ao que parece, não exatamente de olho numa vaga no STF em 2019, mas sim de uma candidatura presidencial em 2022 se Jair Bolsonaro cumprir a promessa de não se candidatar à reeleição. Ótimo para o novo governo, que ganha um nome reluzente para exibir à platéia nesses primeiros tempos. Bom para o ex-presidente Lula e sua defesa, que terão reforçados seus argumentos de falta de isenção do juiz para condená-lo e passam a ter chances reais num eventual recurso ao Supremo. Nem tanto para o próprio Moro, que entra numa jogada de risco, e menos ainda para a Lava Jato.
Muitas águas vão rolar até que se saiba se Moro chegará candidato a 2022. Antes de tudo, ele vai ter que se adaptar aos modos e costumes de Brasília, conviver com os colegas do governo Bolsonaro, com o Legislativo e com os integrantes do STF, além, é claro, de mostrar serviço. Um serviço para lá de difícil, que é mostrar resultados no combate à violência e à corrupção. É um teste difícil, que somente quem tem ambições futuras teria disposição para enfrentar, saindo de sua zona de conforto.
Mas o maior beneficiário do casamento definitivo de Moro com a política pode ser Lula, usando o argumento de que ele confirma flertes anteriores do juiz com o antipetismo. A suspensão do sigilo da delação de Antônio Palocci em plena campanha eleitoral será o carro-chefe dessa argumentação, que deverá servir de base a recursos a instâncias superiores como o STF. O Supremo deverá se dividir mais uma vez, mas é muito provável que a maioria agora penda a favor do ex-presidente.
Até porque Moro não é o rei da popularidade no STF, onde diversos ministros, como o atual presidente Dias Toffoli e Gilmar Mendes, já se manifestaram diversas vezes contra excessos do juiz de Curitiba. Nos bastidores, o Supremo não está feliz com a possibilidade de ter o juiz de primeira instância nomeado para uma de suas vagas. E nem está disposto a se curvar a um superministro da Justiça, com quem terá relação mais protocolar do que qualquer coisa.
A Lava Jato poderá continuar sendo conduzida em Curitiba pelo sucessor de Moro, mas outros réus tendem a questionar suas decisões a partir de sua contaminação pela política. Já sem o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, a equipe evidentemente estará desfalcada e mais fraca.
De imediato, o maior ganho de Moro será evitar o enfrentamento previsto para o depoimento de Lula no caso de Atibaia, marcado para 14 de novembro. Os petistas estavam prevendo uma performance política do ex-presidente em seu primeiro pronunciamento público pós-eleições – que, no mínimo, provocaria constrangimentos a Sérgio Moro. Foi a primeira vez em que o juiz escapou do réu.