São ainda remotas as chances de que o presidente Michel Temer venha a se tornar alvo de outra denúncia no STF, a ser submetida ao plenário da Câmara aos 45 minutos do segundo tempo de seu governo, até o final deste ano. Remotas, mas não impossíveis. O sinal vermelho voltou a se acender no Planalto nos últimos dias, depois que Luís Roberto Barroso autorizou a quebra do sigilo bancário de Temer e Edson Fachin, a pedido de Raquel Dodge, incluiu o presidente no inquérito que apura pagamentos da Odebrecht ao PMDB. Sob todos os disfarces, terá sido esse o tema óbvio da visita de Temer à ministra Cármen Lúcia no sábado.
O que teme Temer? Um fracasso monumental na saída, uma desmoralização que seria uma terceira denúncia à Câmara, desta vez com chances menores de ser rejeitada como as duas anteriores. Por quê? Porque, no ambiente eleitoral, ninguém é mais de ninguém, e as bases parlamentares de esfarelam na velocidade em que a caneta presidencial vai ficando sem tinta. E quem sai do Planalto denunciado sai em condições muito frágeis para articular um futuro fora do foro privilegiado.
Isso pode acontecer? Ainda que o prazo seja exíguo, e que Raquel Dodge não seja Rodrigo Janot, é possível tecnicamente haver denúncia, sim. Não no inquérito do PMDB, que trata de ações anteriores ao mandato presidencial, mas no dos Portos, que foi prorrogado por 60 dias. Se ele se encerrar em maio ou junho, e a partir daí for formulada a denúncia ao STF, ela pode, em tese, ir parar no plenário da Câmara às vésperas da eleição. E a simples possibilidade vem deixando o presidente e seus aliados mais chegados de orelha em pé.
Com a esperteza do político que dá nó em pingo d’água, Michel Temer passa ao público a ideia de que está trabalhando por uma candidatura própria ou do PMDB à presidência. Engano, Está trabalhando pela própria sobrevivência e sabe que ela se dará longe do Planalto a partir de 2019.
Os articuladores do Planalto estão exigindo dos partidos aliados, para que mantenham suas pastas na Esplanada, apoio nas eleições a um candidato governista que ainda não existe e poderá nem existir, quanto mais ter votos. Seria um nonsense total qualquer conversa nessas bases. Só não é porque o que está por trás disso, verdadeiramente, é a preocupação em manter a fidelidade desses partidos em torno de Temer e evitar a aprovação de uma terceira denúncia na Câmara, que o afastaria do cargo, ainda que a poucas semanas do fim do mandato.
Curiosamente, nessa circunstância o presidente estaria nas mãos daquele que vem se tornando, com o passar dos dias, um potencial adversário na eleição presidencial: o deputado e pré-candidato do DEM, Rodrigo Maia, dono e senhor do tempo e da tramitação de tudo na Câmara. Michel terá que ter os votos na Câmara numa situação extremamente adversa.
Alguns vão se perguntar de que adiantará destituir um presidente prestes a sair do cargo, em vez de esperar uns poucos meses. Na prática, quase nada. Mas no embrulho de uma campanha política para eleições gerais, terá seu valor de venda e de troca. Ainda mais num ambiente em que o primeiro lugar nas pesquisas poderá estar preso e impedido de concorrer. Quem prende Lula pode, de cambulhada, destituir Michel e riscar muito mais gente das urnas e do convívio social.