Espertamente, Michel Temer fez na sexta-feira passada, na entrevista aos grandes jornais, uma espécie de vacina para justificar seu encontro de ontem com Eduardo Cunha – e outros mais que, certamente, virão e serão descobertos. Disse que tem 33 anos de vida pública, conversa com todo mundo, e que o presidente afastado da Câmara não o atrapalha. Não se sabe se a conversa com Cunha – ainda desmentida pelo próprio ontem à tarde, quando o Planalto já a confirmava – estava marcada desde sexta, mas o que fica claro é que Michel está tendo que administrar pessoalmente o deputado.
Um Cunha ressentido solto por Brasília – ou, quem sabe ainda, preso – talvez seja o pior abacaxi político recebido por Michel em seu até agora curto governo. O deputado, prestes a ser cassado pela Câmara, é uma bomba ambulante, que estaria ameaçando os companheiros do PMDB e de outros partidos com eventuais delações e revelações que arrastariam a todos, inclusive o presidente interino, ao olho do furacão da Lava Jato.
O que quer Eduardo Cunha de Michel Temer? Ajuda para não ser cassado, o que dificilmente o Planalto poderá lhe dar. Nem mesmo nos bastidores ou no escurinho da madrugada, como tentou fazer na comissão de ética e acabou tendo que recuar diante da reação dos aliados da ex-oposição.
Cunha é hoje um zumbi político que pode levar para o quinto dos infernos da impopularidade quem ousar ficar a seu lado.
Na real, portanto, tudo o que o presidente interino da República pode querer, ou precisar, do presidente afastado da Câmara neste momento é distância. Só que não pode fazer isso. Michel vai ter que se equilibrar entre a cruz de uma delação detonadora de Cunha e a caldeirinha que transformará em carvão todo aquele que tentar salvá-lo no plenário da Câmara.
Ou seja, vai ter que receber, conversar e tentar acalmar o companheiro peemedebista. Este é o verdadeiro desafio a colocar em prova o decantado talento político do presidente interino.