Michel: entre as lições da China e as preocupações do 7 de setembro

Michel Temer, já voando de volta ao Brasil, está trazendo na mala algumas lições aprendidas na viagem ao G-20. Uma delas, a de que não se deve comprar sapatos chineses na China, concorrente do setor calçadista brasileiro. Outra, a de que não se deve dar declarações minimizando manifestações populares.

Na verdade, tudo se resume a um só ensinamento, que mesmo o experiente político Temer parecia não conhecer: quando se é presidente da República, cada ato e cada palavra proferida são superdimensionados, ganham pernas e saem pelo mundo criando confusão. Todo cuidado é pouco.

Afinal, não há problema algum num sujeito que sai para comprar um sapato, sobretudo quando ele paga a compra. Só que não o presidente da República. A imprensa descobre, as fotos vão parar nas redes sociais, os fabricantes de sapatos brasileiros chiam.

Pior ainda foi a entrevista de sexta-feira em que o presidente deixou escapar que os grupos de manifestantes que quebraram carros e vitrines eram pequenos e não tinham “mais do que 40 pessoas”. O chanceler José Serra chegou a dizer que eram “mini”. Parecendo que era só para contrariá-loa, milhares foram para as ruas neste domingo, começando pela Avenida Paulista.

Manifestações não são exatamente uma novidade num país que acaba de sair de um sempre traumático processo de impeachment. Temer sabe que tem uma dura oposição.

Mas a dimensão e a composição dos protestos de domingo surpreendeu e preocupou os especialistas em segurança do governo. Sobretudo porque identificaram na Paulista um público diferente, de gente jovem e de casais mais velhos que, nitidamente, não era da CUT nem da base social do PT e demais partidos de esquerda.

Auxiliares do presidente estão apreensivos também com a possibilidade de os protestos contaminarem os festejos do Sete de Setembro, inclusive em Brasília, onde Michel vai presidir o desfile militar. Na equipe que ficou aqui no Brasil já havia até gente torcendo por um providencial atraso que tirasse o presidente da parada de quarta-feira – hipótese impossível, já que a chegada da comitiva está prevista para o meio-dia de terça. Vai ter que encarar.

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