Devagar com o andor que o santo é de barro. Pegou mal entre deputados do Centrão a afirmação de Michel Temer publicada hoje pelo Estadão em que o presidente interino falava em desidratar o grupo. Além de uma nota “contextualizando” a declaração, Temer colocou em campo os articuladores palacianos para explicar aos ofendidos que não é bem assim – e que o que ele quer desidratar são as divisões em sua base.
Na prática, Temer quer, sim, se livrar do Centrão no figurino que ele teve até ontem, o de tropa de choque de Eduardo Cunha, sempre com a faca entre os dentes e irrefreável apetite por cargos e favores. Esse Centrão, porém, o Planalto não precisa desidratar porque está morrendo sozinho com a derrota de Cunha, que deve ser cassado já em agosto. É só deixar morrer sozinho.
Outra coisa muito diferente é sair cutucando o Centrão com declarações mal colocadas e ameaças de perda de cargos e etc. Nas últimas horas, a disputa pelo poder na base governista gerou rumores de que duas cabeças centristas estão a prêmio: a do líder André Moura e a do ministro da Saúde, Ricardo Barros.
Isso acirrou os ânimos e pode vir a ser um tiro no pé para o Planalto. A ameaça de perder espaços para o PSDB e o PMDB pode reaglutinar o derrotado Centrão que, em circunstâncias normais, virá aos poucos, docilmente, por gravidade, para a órbita do Planalto.
Por isso, Michel saiu hoje em campo procurando os deputados e desmentindo tudo: desidratação, demissão, implosão. Por ora, não vai fazer qualquer gesto que passe a ideia de que está esvaziando o Centrão. Afinal, eles são 170 deputados – o placar de Rogério Rosso na eleição na Câmara – que, se se juntarem à oposição, podem atrapalhar muito as votações.