Apesar de toda a boa vontade do mercado e da mídia, que querem muito acreditar que o governo Temer vai tirar a economia do buraco, foi no mínimo morna a receptividade às medidas anunciadas hoje pelo presidente interino. Representantes do setor produtivo, economistas e integrantes do setor financeiro mostraram certa decepção com a falta de medidas detalhadas, efetivas, “no papel”. Segundo alguns, trata-se de um bom conjunto de propostas de médio e longo prazo, importantes para a retomada da confiança. Mas as coisas ainda não estão claras no curto prazo.
O anúncio de criação do teto para os gastos públicos foi bem recebido, mas vai depender da aprovação de uma emenda constitucional, que leva tempo para ser votada, e inclui os gastos em Saúde e Educação, o que certamente vai gerar reações no Congresso e dos movimentos da sociedade ligados a essas áreas. Da mesma forma, a reforma da Previdência, incluindo a idade mínima para aposentadoria, dificilmente será votada este ano, antes das eleições municipais.
O uso do fundo soberano criado nos governos do PT, que em tese aplicaria recursos na educação, também é considerado polêmico. E a devolução de R$ 100 bilhões do BNDES ao Tesouro é considerada uma medida engenhosa, mas ainda sob avaliação jurídica.
Ao fim e ao cabo, a impressão que ficou hoje é de que os anúncios da manhã foram antecipados antes de seus estudos estarem completos para compor um cenário e facilitar o que é urgente e essencial para a sobrevivência do governo Michel Temer neste momento: a aprovação da nova meta fiscal pelo plenário do Congresso. Hoje, é isso que importa. Mas o Planalto concluiu, acertadamente, que precisava dessa carta de intenções de longo prazo como argumento para cobrar presa nas votações emergenciais.