O relator João Pedro Gebran Neto está lendo seu voto há 40 minutos e ainda não saiu das preliminares. Mas, pelo andar da carruagem, sua tendência é engolir Lula com garfo e faca. Vem rejeitando todas as preliminares levantadas até hoje pela defesa, e não apenas formal e burocraticamente. Gebran, no fundo, está fazendo uma defesa da força tarefa da Lava Jato e do juiz Sérgio Moro.
O relator rejeitou, por exemplo, todos os questionamentos sobre a surpreendente condução coercitiva de Lula, em 2016. Justificou sua necessidade, disse que o juiz Moro tinha razões fundamentadas ao determiná-la e argumentou que esse procedimento é uma “alternativa menos gravosa” à prisão temporária – lembrando que o Ministério Público havia pedido a prisão do ex-presidente.
“A condução é coercitiva, mas o depoimento não”, disse Gebran. Só para lembrar: o instituto defendido pelo desembargador em seu voto está suspenso por liminar do ministro do STF Gilmar Mendes.
Gebran rejeitou também preliminares sobre cerceamento de defesa, espetacularização do processo, quebra indevida de sigilo telefônico de advogado e suspeição dos procuradores de Curitiba. Neste último caso, observando que tanto os procuradores quanto os advogados de defesa são partes no processo e “não devem deixar de ser altivos”.
Preliminares rejeitadas podem não ter nada a ver com o mérito do processo, que Gebran vai examinar, mas a embocadura do voto de Gebran parece ser bem desfavorável a Lula.