Nesta segunda-feira, Brasília amanheceu diante de um daqueles cavalos-de-pau da política que zeram o jogo. Ao fim e ao cabo, os lavajatistas do STF tiveram um surto de garantismo e salvaram a Constituição de uma séria desmoralização ao proibir o que já estava óbvio: os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, não podem concorrer à reeleição: como as forças políticas irão se organizar dentro das novas condições?
Há dúvidas. Políticos, às vezes, podem ser terrivelmente vingativos e dar o troco quando seus planos são derrubados. Alguns temem, por exemplo, pelo destino da (pequena) pauta de votações que resta no ano, na qual se inclui, por exemplo, a LDO – sem a qual o governo não pode gastar um tostão em 2021 e se veria às voltas com um shutdown. Alcolumbre a Maia podem perder a pressa nisso aí. E o próprio clima de disputa que a partir de hoje vai se acirrar nas duas Casas podem prejudicar as votações. É bem possível, mas não provável.
Pautas novas e emendas constitucionais parecem fora de cogitação, mas o dever de casa para começar o ano gastando duodécimos do orçamento – porque este não será votado antes de fevereiro – deverá ser feito. Até porque, em seus novos lugares de fala – patos não tão mancos assim –, Alcolumbre e Maia ainda têm planos. O primeiro por exemplo, não terá mais o comando do Senado, mas pode querer substituí-lo por um lugar ao sol na Esplanada dos Ministérios. Ao que dizem, tem especial apreço pela pasta de Minas e Energia, e com essa perspectiva não vai querer ser responsável por inviabilizar a agenda da governabilidade.
Rodrigo Maia, por sua vez, terá duas preocupações básicas: eleger o sucessor e deixar um legado. A derrota no Supremo o enfraqueceu – o ideal, segundo amigos, teria sido ele obter o direito à reeleição e não utilizá-lo. Nas atuais condições, não vai poder impor um nome em sua sucessão, mas tem cacife político para liderar uma articulação para eleger um dos cinco pré-candidatos colocados por seu grupo — Aguinaldo Ribeiro (PP), Marcos Pereira (Republicanos), Baleia Rossi (MDB), Elmar Nascimento (DEM) ou Luciano Bivar (PSL) – ou até um nome novo.
Mas será uma disputa ferrenha com o centrão bolsonarista de Arthur Lira, e Maia não poderá jogar no “quanto pior, melhor” e enterrar as pautas de fim de ano. Mais do que isso, para o presidente da Câmara passou a ser fundamental deixar um legado importante na saída, e ele quer que a reforma tributária seja o carro chefe dessa herança. Mas ele só avançará em sua tramitação se tiver a concordância do Planalto – que, por sua vez, condicionará seu apoio à aprovação do mínimo necessário para sobreviver até o ano que vem, como a LDO.
No Senado, a bola vai cair no colo do emedebista Eduardo Braga, mas também pode haver guerras de foice. Segundo aliados, o tucano Tasso Jereissati também está se movimentando, e podem surgir outros nomes no barata-voa que deve se instalar com a saída de Alcolumbre do páreo. É bem possível que o Planalto tenha que adiantar a reforma ministerial planejada para fevereiro.
O certo é que há um novo formato das nuvens em Brasília, e nele Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre ainda sopram ventos até fevereiro.