Com o líder das pesquisas na cadeia, com perspectiva de ser retirado da cédula a poucos dias do pleito, esta será uma eleição para lá de esquisita, e pouco vão valer precedentes e experiências anteriores. Nesse cenário inusitado, já se avista o primeiro problema concreto no horizonte: o debate inaugural dos candidatos a presidente, tradicionalmente realizado pela TV Bandeirantes, marcado para 9 de agosto, daqui a pouco mais de duas semanas. O que vão fazer com Lula, e como isso impactará na campanha?
Pelo andar da carruagem, o mais provável é que o ex-presidente continue preso até lá. Não terá tido ainda, porém, sua candidatura cassada pela Justiça. O prazo para registro só se encerra no dia 15, e os tempos de defesa e contestação da lei da Ficha Limpa tendem a se arrastar pelo menos até o início de setembro.
Na quinta-feira 9 de agosto, portanto, Lula será tão candidato quanto qualquer outro, já escolhido na convenção do PT. Como tal, será convidado pela emissora a participar do debate, aceitará e pedirá à Justiça licença para ir a São Paulo e comparecer. Muito provavelmente, considerando-se o rigor das decisões de Curitiba, não obterá tal autorização. Ou seja, não vai ao debate porque estará impedido de ir.
O que fará a emissora? Aceitará a presença de um representante, tipo Fernando Haddad? Difícil, pois se a moda pega, outros candidatos também se sentirão no direito de enviar representantes para não se expor, esvaziando os debates, que ainda são bom instrumento de informação para o eleitor.
Tudo indica também, segundo informações preliminares, que a Band não colocará aquela cadeira vazia com o nome de Lula junto aos demais candidatos – recurso usado muitas vezes para constranger aqueles que se recusam a comparecer. No caso do petista, a ausência será involuntária, por decisão judicial, e até que seria bom marcar isso durante o debate. Mas é improvável.
Outro ponto de preocupação das emissoras e campanhas é o efeito da ausência forçada de Lula junto aos outros candidatos. Já que o primeiro lugar nas pesquisas não comparece, ninguém se sentirá obrigado, e só irá quem tiver certeza de ter algo a ganhar. Jair Bolsonaro, por exemplo, que tende a ser o saco de pancadas geral, e ora diz que quer debates, ora diz que não, vai ficar muito à vontade para faltar.
Corre-se o risco, portanto, de que o eleitor venha a assistir a um – e até mesmo a mais de um, dependendo dos trâmites da Justiça – debate de candidatos periféricos, do segundo e terceiro pelotões, que estará longe de esclarecê-lo sobre o cardápio real de opções.