O ex-presidente Lula vai ter que usar de toda a sua lábia e poder de sedução para convencer o criminalista Sepúlveda Pertence a desistir da renúncia à sua defesa. Lula sabe que a saída do ex-presidente do STF da causa é mais do que um revés com possíveis consequências judiciais. É, na verdade, um desastre – e não só para sua defesa nos tribunais superiores, mas também para os planos políticos do PT às vésperas da batalha judicial que inevitavelmente se travará em torno do registro da candidatura do ex-presidente.
Depois de uma série de desentendimentos com a equipe de advogados paulistas – e também com os pestistas que resolveram apresentar habeas corpus ao TRF-4 sem consultá-lo – Sepúlveda enviou carta a Lula se desligando da função, mas deverá estar com ele nos próximos dias. É aí que virá o apelo.
Lula tudo fará para que o advogado e amigo não anuncie sua renúncia porque sabe que, com isso, estará cortando a última chance de diálogo com as cortes superiores de Brasília. Se sua situação judicial já é difícil, ficará pior ainda sem Sepúlveda Pertence, e a mensagem que o PT vai passar ao Judiciário é a da radicalização e politização total da defesa.
O que não ê bom no momento em que o STF e o TSE tęm nas mãos a inelegibilidade de Lula. Argumentam os petistas que a hora é de virar a mesa e politizar tudo mesmo, já que todo mundo sabe que a tendência dos tribunais será negar a viabilidade da candidatura de Lula. Por esse raciocínio, a estratégia jurídica seria agora a do confronto, como ficou claro na carta divulgada pelo próprio Lula há duas semanas criticando duramente o ministro Edson Fachin e dizendo não acreditar mais na Justiça – da qual Sepúlveda não gostou nem um pouco.
O ex-presidete do STF, assim como os advogados mais experientes, sabe que as coisas não funcinam assim, e que partir para o confronto direto e aberto com o Judiciário – que está longe de ter um comportamento homogêneo – é dar murro em ponta de faca. E é aí que entra a importância de um defensor que mantenha um mínimo de interlocução com os ministros da suprema corte.
Pode parecer pouco diante da intransigência que mantém preso e amordaçado o ainda líder nas pesquisas presidenciais, mas tem uma enorme importância, por exemplo, o momento em que for declarada a inelegibilidade de Lula e última instância. Vai depender da boa vontade do Judiciário se isso vai ocorrer já, ainda em julho, atrapalhando os planos do PT, ou se, no limite, só acontecerá perto das eleições, a ponto de como quer o partido ter o nome do ex-presidente na campanha e até na urna eletrônica – o que faz uma grande diferença no processo de transferência de votos para um outro candidato do PT.
Ou seja, não é hora de declarar guerra total e queimar as caravelas com o Judiciário – e Sepúlveda Pertence é peça essencial nesse jogo.