Lula solto, ainda mais sem se saber por quanto tempo, não seria exatamente Lula candidato, mas mudaria tudo. A reação rápida do juiz de primeira instância Sérgio Moro contra a de seu superior plantonista do TRF-4, Rogério Favreto, mostra o quanto o establishment teme o ex-presidente. Poucas vezes se viu um juiz de instância inferior desafiar dessa forma um desembargador hierarquicamente superior.
Por quê? Porque há muita coisa em jogo. Lula solto ainda teria sobre si o peso da Lei da Ficha Limpa, e dificilmente teria no Supremo Tribunal Federal – a quem caberá julgar o assunto em última instância – uma decisão favorável à sua elegibilidade. Mas teria enorme impacto no quadro eleitoral.
Há três meses se comunicando por cartas, recados e vídeos gravados antes de ir para a cadeia, o ex-presidente pode voltar às ruas e às redes com aquele gogó que todo mundo conhece. Vai sair falando a torto e a direito, e a desconfiança assustada do establishment político de que, mesmo na cadeia, ele seria capaz de botar um poste do PT no segundo turno da eleição presidencial viraria quase certeza.
A decisão pegou de surpresa a mídia, o establishment e inclusive muitos petistas. Com Moro, muita gente passou a trabalhar para não deixar Lula sair da cadeia.
Que ninguém se iluda: Lula pode continuar preso, mas a batalha jurídica deflagrada neste domingo para impedir a soltura do ex-presidente terá seu preço político. No mínimo, abre uma trinca na narrativa dos que sempre negaram qualquer perseguição a Lula por parte da turma de Curitiba e reforça o discurso da vitimização do ex-presidente.