Mesmo encarcerado, o sujeito ainda tem 30% das intenções de voto, diz o DataFolha da madrugada. Dois de cada três de seus eleitores se dizem dispostos a votar num nome apoiado por ele. Se a candidatura do ex-presidente Lula vai virar miragem, por força das circunstâncias, a influência do eleitor Lula tende a ser decisiva: no retrato de hoje, colocaria alguém no segundo turno, desde que o apontasse como seu candidato. Quem?
Para começo de conversa, este é o principal recado do DataFolha pós-cadeia: há um bom espaço para candidatos do campo da esquerda e da centro esquerda crescerem – Ciro Gomes, Joaquim Barbosa e até os petistas ainda minúsculos, quando se tornarem conhecidos. Sem Lula no cenário, quem obtiver seu apoio tem grande chance de chegar lá. Marina Silva seria hoje, segundo o Data, a primeira grande beneficiária da ausência de Lula na cédula, mas iria sozinha: sua migração para o centro em 2014 dificulta a recomposição com os petistas.
Outro recado importante da pesquisa é que o centro, ou centro-direita, continua com sérias dificuldades para crescer. Geraldo Alckmin, o candidato mais viável desse grupo, está empacado no mesmo lugar (entre 6% e 8%), ilhado por adversários do mesmo campo, como Álvaro Dias, que divide seus votos no sul, e por Jair Bolsonaro, que lhe tomou votos em São Paulo e tem a dianteira na região sudeste. Como o nordeste é vermelho, estreita-se o caminho para Alckmin.
Joaquim Barbosa, por sua vez, chega bem ao cenário, tirando votos tanto à direita quanto à esquerda. Sem fazer campanha, dizer que é candidato ou sequer aparecer na mídia, alcança os mesmos 8% do ex-governador, mas com óbvio viés de alta. Vai ficar difícil ao PSB lhe negar legenda a esta altura.
Os outros candidatos da centro-direita simplesmente não existem, pelo menos por enquanto. O DataFolha aconselha Rodrigo Maia a retomar sua candidatura a deputado e investir na estratégia promissora de se reeleger presidente da Câmara. Michel Temer, presidente mais impopular da história, consegue ter mais votos do que seu adversário interno no MDB, Henrique Meirelles: 2% contra 1% nessa guerra de titãs.
Desde a redemocratização, o quadro nunca esteve tão incerto a seis meses da eleição. Bolsonaro estagnado, tecnicamente empatado com Marina num cenário sem Lula, pode não ter aquela vaga tão garantida assim no segundo turno, sem o petista para polarizar e depois da pancadaria que certamente levará na campanha.
À esquerda, a garantia de presença no segundo turno passa pelo apoio de Lula – embora seja o caso de se perguntar quanto sobrará dos 20% que o seguiriam cegamente hoje – e pela capacidade de articulação dessas forças, ou de parte delas, numa só chapa. Por exemplo, Ciro, ou Joaquim, tendo um petista como vice, teriam lugar praticamente garantido no segundo turno. Sozinhos, pode não ser bem assim.
Os petistas estão vendo isso, mas apontam dificuldades para essa articulação hoje. Vão estressar ao máximo com a candidatura Lula, levando-a enquanto puderem, de olho nas pesquisas. Mais à frente, na hora de substituí-lo, pesar os riscos. E não descartam nada, nem mesmo a opção pelo relator do Mensalão, que botou algums dos seus na cadeia. Estão certos: política não se faz com o fígado, como dizia Ulysses Guimarães.