Adversário não se escolhe, mas há muito mais do que parece por trás da troca de farpas entre o ex-presidente Lula e o governador Geraldo Alckmin esta semana. Ao cobrar dos petistas, numa reunião, que ataquem mais o governador de São Paulo, ao invés de ficarem concentrados numa polarização com o prefeito João Dória, Lula está, na verdade, dando uma mãozinha a Alckmin, que prefere ter como adversário pelo PSDB em 2018.
Afinal, já o derrotou uma vez, em 2016, é território conhecido e não representa nada novo para o eleitorado – assim como ele próprio, aliás. Situação diferente de uma disputa com Dória, que embora esteja sofrendo um início de desgaste, pode vir a encarnar a novidade na eleição presidencial, com a grande vantagem de não ter tido seu nome citado na Lava Jato.
Na corrida interna do PSDB pela candidatura, Alckmin e Doria estão palmo a palmo, e buscam, ambos, polarizar o debate público com Lula para reforçar sua própria condição de antilula. Doria, por exemplo, não perde oportunidade de atacá-lo sempre, e pesadamente, em qualquer ocasião.
Por que então não dar uma chance a Alckmin de entrar no bate-boca? O governador pegou a deixa de Lula direitinho, e respondeu no mesmo tom, dizendo que o petista está é com “medinho, ou medão” dele. Assim seguirão até a definição das candidaturas no ano que vem.
Se há uma coisa, porém, que bota Lula, Alckmin e Doria do mesmo lado é a torcida para que Michel Temer aguente até lá na presidência, de preferência bem fraco e impopular como está. O petista cresce com o desgaste do peemedebista que puxou o tapete de Dilma Rousseff. Os tucanos, por sua vez, temem que um novo presidente, ainda que eleito indiretamente, acabe se fortalecendo e virando candidato em 2018, ou que ao menos ganhe força para influir na sucessão em favor de um outro nome do campo governista.