Há recados de parte a parte, inclusive públicos. Michel Temer manda dizer por interlocutores diversos que, tão logo confirmado o impeachment, vai procurar a oposição – leia-se PT – para conversar. O ex-presidente Lula, por sua vez, diz aos políticos com quem conversa que Temer está fazendo tudo certo na economia e insinua que está afastado de Dilma Rousseff. Pessoas próximas a ambos afirmam que falta pouco para que Lula e Temer se sentem para conversar – ainda que ninguém fique sabendo quando e que, acima da linha da superfície, continuem trocando petardos.
Lula vai manter o discurso do golpe e sabe que sua única chance em 2018, se sobreviver políticamente até lá, é o fracasso do governo pós-petista, que fez opção preferencial pela centro-direita e vem desmontando pilares dos governos do PT. Temer, por sua vez, mantém o discurso da herança maldita e fica profundamente incomodado com as críticas de Dilma e do PT quando o chamam de golpista.
Mas as cartas políticas – embora não as policiais – já estão na mesa. Dificilmente o impeachment deixará de ser confirmado pelo Senado no final de agosto. E tanto Lula como Temer já trabalham sob essa nova lógica e de olho no futuro.
Lula até anunciou, pela enésima vez, um périplo pelo Nordeste esta semana contra o impeachment. Vai cumprir tabela, aproveitando mesmo a viagem para azeitar o futuro papel de líder da oposição em seu principal reduto – onde, por sinal, Temer vai mal. O ex-presidente há muito não se deixa fotografar ao lado de Dilma e nem a tem acompanhado nos eventos e viagens. Já está jogando lá adiante.
Se, aparente e publicamente, não há o que esses dois conversarem, abaixo da superfície há muito assunto. Lula e Temer nunca tiveram relações atritadas e sabem jogar o jogo. Acima de tudo, querem sobreviver até 2018 – um no governo, outro na oposição. Essa sobrevivência passa, para ambos, pela Lava Jato, pela herança petista e pelo controle dos movimentos sociais durante as reformas previdenciária e trabalhista que vêm por aí. Esse é só o aperitivo.