O mais recente capítulo da Vaza Jato, reunindo o material do site The Intercept à apuração da Folha de S.Paulo sobre 22 conversas do ex-presidente Lula gravadas pela PF e vazadas seletivamente reforça os argumentos de sua defesa quanto à parcialidade dos acusadores. Acima de tudo, porém, expõe de forma crua a politização da força tarefa de Curitiba e mostra que estratégias de investigação e jogadas político-midiáticas se misturaram tanto na Lava Jato que passou a ser impossível distingui-las.
Mais do que isso, o material confirma que recursos de investigação, como as gravações telefônicas, foram utilizados não só para tentar identificar eventuais atos criminosos, mas também para a bisbilhotice política. Os procuradores e policiais chefiados por Deltan Dallagnol e por Sergio Moro ficaram sabendo, com dias de antecedência, que Lula iria aceitar o convite da então presidente Dilma Rousseff para ser ministro da Casa Civil.
Além de mostrar que o ex-presidente não fora motivado pela intenção de escapar da Justiça do Paraná – mas sobretudo pela necessidade de melhorar a articulação do governo e tentar salvá-lo do impeachment – as transcrições dessas conversas comprovam que elas foram usadas para antecipar lances políticos e ações como a de suspender o sigilo das investigações. Isso permitiu a divulgação do diálogo entre Lula e Dilma que tentou induzir a interpretação de que a nomeação destinava-se a ajudar o ex-presidente a ter foro privilegiado no STF – o que motivou a suspensão de sua posse pelo ministro Gilmar Mendes.
“Tá na Globonews”, disse o procurador Carlos Fernando de Souza no grupo do Telegram. “Ótimo dia. Rs”, respondeu Deltan, num diálogo logo depois da suspensão do sigilo por Moro e da divulgação da conversa entre Lula e Dilma. Midiaticamente, a Lava Jato acabara de vencer um round, ainda que claramente em detrimento da lei e dos direitos.
Um dos procuradores, Andrey Borges de Mendonça, verbalizou a preocupação de alguns colegas de que a divulgação da gravação, feita depois de ter sido suspensa autorização legal para o grampo da PF, poderia dar problemas para Moro e companhia. Foi quando Deltan proferiu a frase que mostra explicitamente que, para a Lava Jato, os fins justificam os meios: “No mundo jurídico, concordo com você, é relevante. Mas a questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior, que é político”.