Poucos acreditam que a revelação dos primeiros sinais concretos de um esquema de uso massivo do WhattsApp, bancado por empresários, para disseminar mensagens contra o PT e a favor de Jair Bolsonaro – por Patricia Campos Mello na Folha desta quinta – vá mudar os rumos da eleição a dez dias do segundo turno. Só se Bolsonaro despencasse com a velocidade de uma jaca madura, perdendo cerca de 2 milhões de votos ao dia. Mas a denúncia deixa Bolsonaro com a faca no pescoço – com o perdão da má comparação.
A reportagem sobre o esquema, com nomes de empresários e de agências envolvidos, dá concretude ao que se dizia nos meios políticos e circulava nas redes – inclusive no próprio WhattsApp – e justifica a abertura de uma investigação na Justiça Eleitoral. O PT, que já havia feito uma denúncia, fará outra, à luz dos novos dados.
Em tese, esse tipo de crime pode gerar a cassação da candidatura. Mas é evidente que, em sua velocidade analógica, nem a PF concluirá investigações e nem o TSE julgará o assunto até a posse do novo presidente. Até porque, ao que tudo indica, os dados agora revelados são apenas a ponta de um iceberg que poderá vir à tona, quem sabe confirmando rumores que apontam para fora do Brasil, onde operaria uma sofisticada rede semelhante à que trabalhou para eleger Donald Trump.
Essa investigação pode levar tempo, e as idas e vindas do TSE mais ainda. Mas, se for eleito no outro domingo, Bolsonaro assumiria a presidência da República com uma espada de Dâmocles sobre a cabeça.
Nas palavras de um personagem que acompanhou de perto os acontecimentos, poderá ser uma situação muito semelhante à da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, quase cassada pelo TSE aos 40 minutos do segundo tempo. Só não o foi porque, com o país recém-saído de um impeachment, houve um acordo entre o Judiciário e o establishment político para não provocar mais sobressaltos.
Este poderá não ser o caso de Bolsonaro, sobretudo se, depois de alguns meses, ou até um ano de governo, tiver cometido muitos erros e perdido popularidade e sustentação política. Não custa lembrar que, se o julgamento ocorrer nos dois primeiros anos do mandato, e a chapa for cassada com presidente e vice, serão convocadas novas eleições presidenciais.
Não é por acaso que todo mundo, incluindo Fernando Haddad e Ciro Gomes, vai continuar em campanha depois do dia 28.