Certamente vamos virar tema de estudos da psicologia social. Quem sabe encontram alguma explicação razoável. Enquanto isso, todo cuidado é pouco, até para pegar um Uber – só nas últimas 24 horas ouvi dois casos de passageiras hostilizadas e ameaçadas por motoristas bolsonarianos porque confessaram simpatizar com Haddad. A onda de radicalismo e intolerância, que já havia produzido atentados como o que vitimou covardemente o próprio Jair Bolsonaro em plena campanha, parece aumentar exponencialmente, indo de surras e intimidações a assassinato. Não se trata mais de papo furado de eleição, quando muita gente dramatiza, politiza e até inventa casos de agressão. É realidade.
É como se, à medida em que seu candidato avança, vencendo o primeiro turno e liderando o segundo, além de criar filhotes nos estados, alguns eleitores venham se sentindo mais confiantes para cometer atos violentos e exercitar o radicalismo e a brutalidade. Destamparam uma panela de pressão sem desligar o fogo.
E agora? A imprensa preocupada pede calma e cobra dos dois candidatos declarações condenando as agressões, a violência, o assassinato. Mais uma vez, tratam igualmente os desiguais, comparando abacaxi com melancia, como se o eleitor petista estivesse no mesmo grau de agressividade que os bolsonaristas.
Todo mundo sabe que não é assim. O candidato que disse que ia fuzilar a petralhada é Jair Bolsonaro – que, muitos anos antes, havia ameaçado dar uma surra em Fernando Henrique Cardoso. Também é ele que pega criancinhas no colo e as ensina a fazer sinal de armas com os dedos – e que fez o mesmo gesto do leito do hospital onde quase morrera.
O que mais alarma não é um capitão reformado que sempre se elegeu deputado no nicho da direita radical ter esse discurso e continuar nele. O que assusta de verdade é a quase maioria que se forma na sociedade em torno desse personagem, que poderá se confirmar em duas semanas. Esse será o presidente da República.
E aí vem: o que aconteceu com o Brasil? De quem é a culpa?
A culpa é de muita gente, e vai das elites que nos governam desde o Brasil Colônia aos governantes mais recentes, passando pela camada da sociedade que não entendeu ainda que o bem estar e a segurança de todos depende do acesso de todos aos frutos do desenvolvimento.
Cheguei no Rio e peguei um táxi. O motorista boa praça, morador da Rocinha, contou como o tráfico e o crime organizado intimidam e controlam os moradores. No final, perguntei em que ele votava: Bolsonaro, é claro!