Paulo Guedes desfez-se dos anéis na tentativa de salvar os dedos. Antecipando a troca de seis de seus auxiliares – inclusive o mais importante deles, Waldery Rodrigues, da Secretaria de Fazenda – Guedes tenta afastar o olho gordo do Centrão sobre a sua superpasta. Há poucas semanas, ele tomou conhecimento de que já havia líderes de partidos do bloco oferecendo secretarias de seu ministério a economistas na praça.
Essas sondagens eram acompanhadas pela garantia, dada por esses líderes, de que o atual titular da Economia não estaria mais lá para atrapalhar a nomeação e nem os planos de esquartejamento e recriação de pastas como Planejamento, Trabalho e Indústria e Comércio. Paralelamente, corriam os rumores de que Jair Bolsonaro aproveitaria esse desmembramento para deslocar o arqui-inimigo de Guedes, Rogério Marinho, para o Planejamento, a fim de destinar o Desenvolvimento Regional a um político.
Antes de tudo isso acontecer, Guedes saiu a campo e, ao menos temporariamente, parece ter virado – ou ao menos paralisado – o jogo. Tirou Waldery, que passa a ser seu assessor especial e era um dos principais alvos de críticas dos políticos nas negociações com o Congresso. Aproveitou o movimento para liberar outros auxiliares que vinham pedindo para sair há tempos, sem dar a impressão de que se trata de uma debandada.
Interlocutores do ministro acreditam que, ao menos por enquanto, ele conseguiu estancar as pressões mais fortes por sua saída e pelo desmembramento da pasta. Mas até quando? Ninguém se arrisca a prever se serão dias ou semanas, mas todo sabem que o Centrão de Arthur Lira, Marcos Pereira, Ciro Nogueira e outros vai voltar à carga. Provavelmente, numa velocidade proporcional à evolução dos trabalhos da CPI da Covid no Congresso.
Jair Bolsonaro, que já é um refém dos monstros que ajudou a criar no Legislativo, verá seu espaço de manobra cada vez mais reduzido com o avanço das investigações, e a cabeça de Guedes continua na fatura do Centrão.