Fazer reformas emergenciais é um velho recurso de governos em apuros. Já vimos esse filme antes e ele raramente tem final feliz. Normalmente, tem só final.
Michel Temer se prepara para anunciar medidas para tentar reanimar a economia, que são necessárias mas passam ao distinto público certa confusão quanto à prioridade ao ajuste fiscal.
Uma reforma ministerial também não deve demorar, representando talvez um pacto político de sustentação do governo. Sai o núcleo de irmãos camaradas do PMDB e entram os tucanos, dando um verniz de maior respeitabilidade ao Planalto. São remotas as possibilidades de funcionar.
De cara, Michel tem um sério problema para promover a tal “faxina” que a mídia e outras forças lhe cobram, com a retirada do governo dos nomes denunciados nas delações da Odebrecht. Se ministros como Eliseu Padilha e Moreira Franco saem porque foram citados por Claudio Melo Filho, por exemplo, o que fazer com o próprio presidente da República, igualmente mencionado?
Não é um caminho fácil, e o que podemos esperar é, no máximo, o afastamento de algum desses auxiliares por outros motivos -ou pretextos. No caso de Padilha, alvo de outras denúncias nos últimos dias, a explicação que estaria sendo preparada tem por base razões de saúde.
Mais do que os últimos tempos do governo Dilma, a atual fase do governo Temer tem, para nós repórteres não tão jovens assim, tudo a ver com a reta final do governo Collor. Quando se viu em apuros, o então presidente recorreu a uma aliança com um partido forte, o PFL, e resolveu montar uma equipe de notáveis, o tal “ministério ético”, com nomes como Célio Borja e Marcílio Marques Moreira. Os éticos, porém, recusaram-se a salvar Collor e agiram institucionalmente até o fim. O presidente ficou isolado com sua tropa de choque, formada por uns poucos parlamentares no Congresso.
No dia em que ficou claro que a situação estava quase perdida, perguntei ao então líder do Governo, Odacyr Soares -um dos poucos fiéis até o fim – o que ia fazer o ministério ético para salvar Collor.
– Minha filha, não existe ministério ético, nem aético, nem aidético nessas horas. Cada um quer salvar a própria pele.
Fica a lição.