A decisão dos Estados Unidos de recuar do recuo e, finalmente, cumprir a promessa de apoiar, como prioridade, a entrada do Brasil na OCDE não custou muito a Donald Trump. Afinal, substitui, em sua lista, a Argentina neoperonista pelo Brasil bolsonarista, fazendo um agrado a quem correu para apoiá-lo no conflito com o Irá. Isso quer dizer que vai mudar alguma coisa e o país vai entrar no clube dos ricos? Não.
A decisão do governo americano não vai muito além do marketing, que dará discurso e ajudará Bolsonaro a justificar internamente suas polêmicas posições de política externa. Para ingressar de fato na OCDE, o Brasil precisa atender a diversas condições, que vão desde padrões de abertura comercial ao desempenho de indicadores econômicos e sociais — muitos deles em clara decadência.
Falando sério: alguém acredita que um governo ruim de serviço como este será aceito no clube dos ricos, por mais que se humilhe nos rapapés a Trump e outros senhores do mundo liberal-conservador? Difícil.
Em num ano, o governo Bolsonaro desmantelou, por exemplo, o atendimento aos cidadãos no INSS. A fila de dois milhões de pessoas na Previdência – lembrando que o Executivo teve quase um ano para planejar sua adequação à reforma previdenciária – desautoriza a presença do Brasil na primeira divisão. Assim como o aumento da miséria e a piora nos indicadores de educação e saúde.
O problema para entrar na OCDE pode não ser o apoio antes titubeante dos Estados Unidos. É o fato inegável de que o Brasil é ruim de serviço.