Fim de uma era: o Piantella fecha as portas

Ulysses Guimarães, Dom Joãozinho, Cunha Bueno, Luiz Henrique e Aristo durante encontro nos tempos áureos do restaurante Piantella. Foto Orlando Brito

Pode ser mera coincidência. Mas no dia em que se encerram os 13 anos da era petista, anuncia-se o fim de um dos maiores símbolos da história do poder, seus personagens e suas articulações: abatido pela crise, o restaurante Piantella vai fechar suas portas. Foi, nas últimas quatro décadas, o reduto dos políticos de Brasília, e se suas paredes falassem contariam os principais episódios da história recente do país.

Foi lá, por exemplo, que o PMDB autêntico discutiu suas estratégias contra a ditadura. Em mesa cativa, Ulysses Guimarães articulou com outros personagens, incluindo o grande Tancredo Neves, o movimento que levou o país à transição democrática. Fernando Henrique Cardoso, José Serra e outros tucanos também foram assíduos frequentadores, e suas meses assistiram também as conversas que resultaram em sua saída em bloco do PMDB para criar o PSDB. A turma do ex-PDS e ex-PFL também era frequentadora: presidente da Câmara e político promissor da época, o deputado Luiz Eduardo Magalhâes era assíduo nas madrugadas do Pianta. Miro Teixeira cantava nos saraus ao som do piano.

A república petista também frequentou o Piantella, José Dirceu à frente. Lula almoçou lá no dia de sua primeira diplomação em dezembro de 2002. Há tempos o Piantella já não era mais o mesmo. Marco Aurélio, seu fundador e amigo dileto de Ulysses, já havia passado as chaves para o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, seu sócio, que passou longos meses sustentando o restaurante no vermelho. Agora, a crise chegou de vez.

O anúncio foi feito por Kakay, seu atual proprietário. Em mensagem aos amigos e frequentadores do histórico restaurante, informou:”O Piantella era um patrimônio imaterial da cidade. Tem horas, porém, que a realidade tem que ser enfrentada. Me despeço do Piantella como quem se despede de um amigo”.

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