Nenhum chefe de poder quebra a tranquilidade de um domingo ao meio-dia para dar uma entrevista de colarinho engomado e paletó no Planalto se não precisar muito. Quando mais três. Michel Temer catou Rodrigo Maia e Renan Calheiros para declarar publicamente a morte da emenda que anistiava os políticos da Lava Jato e dar outras explicações porque sentiu que a água da crise subiu perigosamente até o seu pescoço.
São duas as maiores preocupações de Michel e seus aliados neste momento:
1. Estão apavorados com a possibilidade de a convocação dos movimentos anti-corrupção (os ex-pro-impeachment) no próximo domingo contra a anistia dos políticos dar certo e se transformar numa ampla mobilização Fora Temer;
2. Tentam se antecipar à divulgação das gravações com as conversas do ex-ministro Calero sobre a pressão que ele denuncia ter sofrido em favor do empreendimento imobiliário do agora também ex-ministro Geddel Vieira Lima. As gravações, que incluiriam conversa com Temer, devem vir à luz hoje no Fantástico, com mais uma entrevista de Calero.
Posto isso, resta saber se o presidente e seus companheiros do Legislativo conseguiram melhorar sua situação com essa exposição com cara de tentativa meio desesperada.
No caso da anistia, é possível que tenham cavado boas manchetes na mídia. Mas Temer foi um pouco longe demais ao deixar claro seu temor das manifestações populares ao tratar do assunto. Lembrou 2013 para falar que sempre apoiou manifestações e que vetará a anistia – se ela tramitar – para atender “a voz das ruas”. Não precisava. Um passo a mais e ele quase convoca os movimentos.
Em relação ao Geddelgate, Temer jogou tudo o que podia. Criticou o ex-ministro que, supostamente, teria colocado um gravador no bolso para gravar o presidente. Rebateu os argumentos de que ele não poderia ter interferido no assunto e propor que a AGU desse a palavra final sobre o conflito entre Geddel e Calero em torno de um interesse particular do primeiro. Segundo o presidente, era um conflito institucional sim, entre o Iphan nacional e o Iphan da Bahia.
Se o distinto público vai aceitar as explicações, só saberemos depois, talvez depois do Fantástico e sua repercussão. Mas o que ficou claro, claríssimo, para todo mundo é que o Planalto está morrendo de medo.