Enquanto presidente da República, Jair Bolsonaro tem sido um excelente comunicador de redes sociais. Nesses tempos conectados, a comunicação é de fato importantíssima. Governar, porém, é algo muito mais complexo, e há um abismo entre o que um deputado pode dizer sem compromisso nas redes e a comunicação de um presidente – que, por sinal, tem que ir muito além de falar para a torcida. Tem, sobretudo, que fazer.
E não é porque estamos quase 24 horas mergulhados na espontaneidade e no imediatismo das redes, onde notícias falsas, opiniões, agressões e até algumas coisas sensatas se propagam com enorme rapidez, dando ilusão de movimento, que um presidente da República pode governar por elas. Ou se comunicar, nas redes e fora delas, com a falta de compromisso do twitter, a ligeireza do Facebook, a falta de assunto do Instagram.
Palavra de presidente da República tem que valer, no mínimo expressando a verdade e a exatidão. Dizer que aumentou o IOF quando não aumentou o IOF e ser desmentido pelo secretário da Receita e pelo chefe da Casa Civil é um deslize. Mais constragedor no mesmo dia em que o presidente anuncia uma redução da alíquota mais alta do IR, também negada. Pior ainda quando isso ocorre no dia seguinte ao anúncio de uma suposta idade mínima para aposentadoria, a ser incluída na reforma da Previdência, mas desconhecida da equipe que está elaborando essa reforma.
Jair Bolsonaro não é Chacrinha e não pode chegar para confundir. Tem que chegar para esclarecer, decidir como a reforma da Previdência – ou qualquer outro assunto – vai ser, anunciar e tocar as ações necessárias para viabilizá-la. Governar é isso.
Se Bolsonaro não encontrar um anteparo para protegê-lo, inclusive de suas próprias palavras, correrá o risco de botar a perder as boas condições que tem hoje de aprovar a Previdência e outras pautas da agenda econômica no Congresso. Precisa urgentemente de um ministro ou assessor para se expor em seu lugar. Tem também que sair um pouco do lero-lero das redes sociais, ler as propostas de reforma da Previdência, ouvir quem precisar e escolher a sua.
Deputados costumam sobreviver quando são pegos na mentira ou perdem a credibilidade. Presidentes, nem sempre.