Não há consenso dentro do governo e nem no PT em torno da decisão da presidente Dilma Rousseff de enviar ao Congresso até sexta emenda propondo novas eleições, antecipada hoje por O Globo. No entorno da presidente, sobretudo entre os que trabalham em sua defesa, há o temor de que o gesto acabe por esvaziar de vez o argumento de que o impeachment não tem fundamento jurídico e de que a presidente está sendo vítima de um golpe político. Seria, segundo esse ponto de vista, jogar a toalha de vez.
Há preocupação com o comportamento e os atos de Dilma nesta que poderá ser, na prática, a última semana de seu governo, já que a comissão do Senado deve aprovar na sexta-feira o parecer favorável à seu afastamento, que seria referendado pelo plenário até quarta.
Os verdadeiros amigos de Dilma – são poucos, mas existem -, os que pensam na imagem com a qual ela passará à história, estão apreensivos. O saco de bondades (e também de maldades) aberto pela presidente nos últimos dias, anunciando medidas que até ontem ela relutava em tomar por falta de espaço fiscal – como os reajustes do BolsaFamília e da tabela do IR – parecem ter claros objetivos políticos. Os principais, agradar sua base social e deixar seu sucessor numa saia-justa. Aparentemente, Dilma não está preocupada com o caixa do Tesouro depois dela.
Ok, isso pode ser até normal para uma governante que está se sentindo enxotada do cargo sem ter praticado atos de corrupção por algozes enrolados até o pescoço na Lava Jato.
Mas a vinganca política tem que ter limites, e o principal deles deveria ser o interesse do país. Enviar ao Congresso agora uma emenda propondo a realização de eleições presidenciais antecipadas já em outubro sem um amplo e prévio acordo político é apenas um gesto. Sabe-se que, sem as necessárias tratativas, o Legislativo não as aprovará, embora a maioria da população seja a favor de novas eleições.
É uma jogada política destinada a incluir um ingrediente de incerteza num quadro para lá de complicado. Tem potencial para tumultuar ainda mais um ambiente que prevê nos próximos dias a posse de um presidente fraco, sem apoio popular, mas com a difícil missão de tomar medidas para tirar e economia do fundo do poço.
Todo mundo sabe que só se consegue isso com um mínimo de previsibilidade e estabilidade – que estarão fora de questão enquanto houver incertezas sobre quem ocupará o terceiro andar do Planalto nos próximos meses.
A ala do governo e do PT que é contrária ao envio da emenda das eleições esta semana não descarta a possibilidade mais adiante. Mas acha que o assunto deve ser tocado apenas após a saída irreversível de Dilma, no bojo de uma ampla campanha popular que levante o país.
Até lá, Temer teria a chance de mostrar a que veio – ou, pelo menos, mostrar se veio.