Manter o discurso da indignação e seguir com a candidatura Lula até o fim é o que resta ao PT – ainda que sejam grandes as chances de ele vir a ser cortado da cédula até agosto ou setembro. É o único jeito de tentar segurar o apoio da maioria dos que hoje, nas pesquisas, dizem votar no ex-presidente e, quando o fim chegar, se chegar, sobreviver a bordo de outra candidatura ou aliança. Lula e o PT, porém, não podem errar na mão, como fizeram nesta quinta ao pregar a desobediência à decisão da Justiça.
Lula fez uma frase de efeito em seu discurso, dizendo que não tem razão para respeitar a decisão do TRF4. Outros petistas, como o senador Lindbergh Farias, pegaram mais pesado, falando claramente em desobediência à Justiça.
É o suficiente para assustar muita gente que poderia até estar se sensibilizando com o discurso da perseguição ao ex-presidente, apontando o rigor excessivo dos desembargadores do TRF4 e, também, considerando um exagero a decisão do juiz federal de Brasília que confiscou seu passaporte e o impediu de viajar.
O discurso da desobediência à Justiça é um prato cheio para as forças anti-lulistas, que não por acaso já começaram a reagir, sobretudo na mídia, acusando os petistas de desrespeitar o Estado de Direito. Uma coisa é apontar abusos e se colocar como injustiçado. Outra, muito diferente, é se colocar acima de uma decisão do Judiciário – por pior que seja ele – numa democracia. Isso é grave e pode tirar votos.
Mais: pode criar um espírito de corpo no Judiciário e dificultar a vida do próprio Lula nos próximos recursos ao STJ e ao STF. Por que serão compreensivos com quem diz que decisão da Justiça não vale nada?
Há momentos em que é difícil, muito difícil, manter o sangue frio. Mas é justamente nessas horas que é preciso respirar fundo e agir calculadamente, calibrando ação e indignação em doses certas.