Empacado entre 2% e 4% nas pesquisas, o governador João Doria parece ter dado o primeiro passo para derreter politicamente ao admitir, num encontro de presidenciáveis no BTG, que “lá adiante”, diante das circunstâncias, poderá retirar sua candidatura em favor de um nome da terceira via. Seus adversários, dentro e fora do PSDB, festejaram. Os meios políticos em geral, que já duvidavam de sua viabilidade, já o dão como carta fora do baralho.
Quem conhece Doria, porém, acha que não é bem assim. O aceno à união terá sido um gesto “da boca para fora” nesse momento. Ou seja, não é impossível que, em agosto, prazo final para as convenções, ela desista para apoiar alguém que esteja muito bem colocado nas pesquisas, tenha uma agenda de centro-direita e, obviamente, aceite partilhar com ele o poder. Antes disso, dizem, nem pensar.
Os beneficiários em potencial da desistência de Doria, “lá adiante”, seriam Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e seu adversário tucano Eduardo Leite (possivelmente pelo PSD).
Na prática, porém, nenhum deles oferece no curto prazo a expectativa de poder suficiente para motivar sua desistência. Moro, que começou tendo sua candidatura turbinada pelo establishment, parece ir murchando aos poucos – está em situação de empate técnico com Ciro Gomes, com chances de passar em breve ao quarto lugar. O ex-juiz da Lava Jato, isolado politicamente no Podemos, precisa que Doria renuncie já para dar algum alento à sua campanha – o que não deve acontecer porque ele não tem os atrativos necessários agora.
Tebet, por sua vez, anda na casa de 1% nas pesquisas, metade do que tem o governador de S. Paulo em suas piores avaliações. E não une nem o seu MDB. Por que alguém iria renunciar para apoiá-la? Leite, se for candidato pelo PSD, o será num gesto de traição ao PSDB, depois de perder as prévias para o próprio Doria. Além das dúvidas sobre seu potencial de crescimento, dificilmente haverá clima para uma composição.
É por isso que muita gente acha que há uma longa distância entre dizer que poderá desistir e desistir de fato da candidatura a presidente.