Ufa! A mídia e o meio político esperaram por 24 horas, mas finalmente chegou a nota do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, declarando que as Forças Amadas são obedientes à Constituição e que trabalham para manter a paz e a estabilidade do país. Em tempos normais, um obviedade sem tamanho. Nos tempos bolsonaristas, um recado providencial de que os militares não vão apoiar um golpe depois de o presidente ter participado de manifestação pró-intervenção militar.
Note-se que Azevedo demorou um pouco para se manifestar, não se referiu ao presidente da República e sequer mencionou a palavra democracia. Provavelmente, não por que não tenha apreço por ela, mas para não dar ainda mais destaque e visibilidade ao episódio, mantendo-se dentro dos limites do óbvio. O general talvez saiba que o simples fato de os militares terem que reafirmar o credo pela democracia já não é normal.
O episódio vem escancarar a disfuncionalidade de nossa democracia. Em pouco tempo, os militares, sem dar nenhum tipo de golpe, voltaram à linha de frente do sistema. Mais de 35 anos depois da redemocratização do país, estamos nós de novo às voltas com aquela pergunta que por tantos anos não queria calar: o que os militares pensam disso?
Voltamos a ler, nas linhas e entrelinhas, os recados das ordens do dia de comandantes das Forças Armadas e a buscar ansiosamente entre nossas fontes aqueles que nos esclareçam o que estão pensando. E respiramos aliviados a cada vez que uma delas garante que não, que Bolsonaro não teria o apoio militar caso resolvesse dar um golpe hoje. Ufa!
Mas será que dá para respirar assim? Temos notícias de que os militares são contra o golpe e, de certa forma, estão conseguindo, aqui e ali, conter os arroubos de um ex-capitão. Mas passaram ao papel de oráculo, guardiões ou ao menos de bedéis da nação. É normal isso?
Infelizmente, não. A normalidade prevê os militares nos quartéis, fora da política, cuidando de importantes questões estratégicas, de soberania nacional e prestando inestimáveis serviços Brasil afora, como prestam. Não vai bem uma democracia em que a nação tem que esperar uma mensagem militar para se tranquilizar em relação ao próprio destino.