Nem o maior torneio esportivo do planeta conseguiu dar uma trégua à Lava Jato, e a semana começa tensa em Brasília. Matérias da revista Veja, no sábado, sobre um suposto pedido de recursos do então vice Michel Temer ao empresário Marcelo Odebrecht para a campanha de 2014, e da Folha de S.Paulo, no domingo, sobre uma hipotética contribuição da Odebrecht à campanha presidencial de José Serra, em 2010, deixaram muita gente sem dormir.
O conjunto da obra, que inclui a citação também de outros nomes, como o do senador Antônio Anastasia no rol dos que teriam sido beneficiados com doações ilegais, confirmou para muita gente o que se ventilava nos bastidores: as novas delações premiadas das empreiteiras Odebrecht e OAS terão mesmo efeito devastador, e ninguém será poupado. O PSDB, assim como já ocorreu com o PT, o PMDB e outros, entra definitivamente na roda.
E o que acontece quando todo mundo entra na zona de perigo e o sistema político fica à beira do colapso? Faz-se um grande acordo, passa-se a régua, entregam-se algumas cabeças e salva-se o resto do mundo.
Na visão de alguns observadores experientes do cenário, é o que está prestes a acontecer. Essa articulação passa pelo estabelecimento de um critério para o corte das cabeças. Teria que haver, nas denúncias e julgamentos, uma separação clara entre o que é crime de corrupção e recebimento de propina em troca de negócios ilícitos, e aquilo que é simplesmente caixa 2 e dinheiro ilegal de financiamento de eleições – delito grave mas ainda não criminalizado. Por essa régua, salvar-se-iam, com penas menores ou até absolvição, os que cometeram ilegalidades eleitorais ao receber dinheiro oculto na campanha, mas que não têm provas de corrupção contra si, como é o caso de alguns petistas e peemedebistas envolvidos diretamente nos desvios da Petrobras.
Fácil de falar, difícil de fazer. Além de ser tênue a separação entre os dois delitos – já que, quase sempre, a origem dos recursos do caixa 2 é ilegal – , vai ser preciso combinar com os russos da vez, sobretudo aqueles que estão no Judiciário, principalmente no STF. Vão ter que começar a defender essa tese e tentar convencer a opinião pública.
Mas o certo é que, enquanto a maioria dos brasileiros estará de olho nas piscinas da natação e nas quadras do vôlei e do basquete, muita gente estará em Brasília articulando uma saída para evitar que todo o sistema político seja tragado nessa etapa final da Lava Jato.