Jair Bolsonaro está rezando a todos os santos para escapar da CPI da Covid, e o último apelo agora é a São Sarney, o ex-presidente, ainda hoje muito bem articulado no MDB, no Senado e no TCU. A equação política que os aliados do governo tentam montar agora passa pela nomeação de um senador que agrade a Sarney e ao relator da CPI, Renan Calheiros, para a Corte de Contas. Com isso, o Planalto tenta matar dois coelhos com uma cajadada só: tornar a composição do TCU mais amistosa para Bolsonaro no exame das contas do governo em 2022 e, ao mesmo tempo, se aproximar de Renan.
Sarney entra na conversa sobretudo porque o ministro a ser removido do TCU seria Raimundo Carreiro, uma indicação do Senado, seu ex-secretário geral da Mesa, que teria que ser convencido a antecipar em mais de um ano sua aposentadoria para abrir a vaga. Em troca, o governo acena com sua nomeação para uma embaixada.
O simples vazamento dessa negociação, porém, poderá colocá-la a perder. Como sempre, o Planalto faz as coisas de forma desastrada, tosca, e os personagens envolvidos podem não querer passar pela exposição desse desgastante toma-lá-dá-cá. O sempre discreto Carreiro já chegaria exposto à sua nova função de embaixador. Sarney, que pode até ter razões maranhenses para colaborar com Bolsonaro – é adversário do governador Flavio Dino – também não vai gostar nada de ver revelado em público o rumo dessas conversas, já que tem excelentes relações com o também ex-presidente Lula.
Também parece ser ingenuidade suprema do Planalto acreditar que pode dobrar Renan dessa forma. O senador alagoano não vai se submeter à desmoralização pública encomendando uma pizza para a CPI em troca de uma nomeação, seja para TCU, para ministérios ou qualquer outra coisa. Mudanças no TCU, aliás, tendem a diminuir sua influência, já que, além de próximo de Carreiro, ele é amigo de Bruno Dantas e outros ministros. Quem conhece Renan sabe que ele é, acima de tudo, um sobrevivente que olha para o futuro — onde, no caso dele, está Lula.