Política e futebol são como água e azeite, e não devem ser misturados. Boa parte dos governantes que o fazem, nas democracias, se dão mal, e a história está repleta de exemplos de presidentes que presenciaram derrotas da seleção brasileira e acabaram reeleitos — e de outros que entregaram taças a vitoriosos sem que isso aumentasse sua popularidade. O futebol pode, sim, é agravar uma crise política que já existe, e nem sempre se meter com cartolas suspeitos é bom negócio para presidentes. Parece ser o caso da jogada populista de Jair Bolsonaro de trazer de última hora a Copa América para o Brasil.
O primeiro jogo está marcado para domingo, em Brasília, e ninguém sabe ainda se haverá mesmo. Amanhã, depois de jogar com o Paraguai pelas eliminatórias na Copa do Mundo, a seleção poderá fazer uma manifestação contrária à sua participação, com o apoio do técnico Tite, que vem colecionando vitórias. O Planalto pensava em se ver livre de Tite até lá, por obra e graça do presidente da CBF, Rogério Caboclo. Só que foi Caboclo quem caiu – e por assédio sexual! – e agora Bolsonaro está sem seu principal articulador na CBF.
Se os jogadores da seleção inviabilizarem a Copa América aqui, Bolsonaro estará desmoralizado de verde e amarelo. A hipótese é improvável, pois com jogo marcado para domingo, todos os “jeitinhos”estão sendo dados para convencer os nossos craques – e, como se sabe, a carne é fraca. É possível que a Copa se realize e que vejamos o presidente da República nos estádios de arquibancadas vazias tentando faturar politicamente. Só que isso já será bem mais difícil.
Boa parte da opinião pública nacional já se mostrou contrária à realização do torneio por aqui por falta de condições sanitárias – o que é uma situação real. Até mesmo a onipresente CPI da Covid já mandou carta aos jogadores pedindo que não participem e mostrando que terão apoio político para isso.
Qualquer problema que ocorra – como, por exemplo, a contaminação de jogadores visitantes e o risco de não haver UTI para atendê-los – irá parar diretamente no colo de Bolsonaro. Além de se colar num acusado de assédio sexual, o presidente da República terá que responder por mais essa. A junção das crises política e do futebol poderá ser explosiva para ele.