Aconteceu o que o Planalto temia. A segunda demissão de ministro em uma semana – num governo com menos de vinte dias – por causa da Lava Jato começa a contaminar a agenda e as ações do novo governo. Hoje de manhã já não houve acordo na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado para antecipar para amanhã a sabatina do futuro presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, que vai ficar para semana que vem.
Com isso, Alexandre Tombini continua participando das reuniões do Copom e do CMN até lá e o governo não começa de verdade no BC. Não há risco de o Senado rejeitar Ilan, mas políticos são como piranhas: não podem farejar sangue que atacam. Sentiram fraqueza no governo Temer e resolveram dificultar tudo.
O próximo teste é a votação da PEC da DRU na comissão especial da Câmara, amanhã. À desvinculação das receita orçamentárias é requisito essencial para o governo botar o orçamento de pé. Mas o clima de crise política – e a bagunça na condução da base governista na Câmara – pode atrapalhar.
Já não há também aquela boa vontade dos primeiros dias na mídia depois da revelação das estrepolias de ministros do neogoverno na Lava Jato pelas gravações de Sérgio Machado. Editoriais e colunas já criticam abertamente as escolhas e a tibieza de Temer.
Ao mesmo tempo, Senadores que votaram contra Dilma na primeira rodada do impeachment ameaçam mudar de opinião na votação final – como disseram Romário e Acyr Gurgatz ao Globo nesta terça-feira. Aqui e ali, fala-se em novas eleições.
Nada disso quer dizer que as coisas já estão perdidas para o governo Michel Temer. Mas o clima aconselha o neopresidente a rever estratégias, sobretudo no relacionamento com a Lava Jato, a mídia e a sociedade, embora o problema pareça estar nas votações no Congresso. Piranhas que atacam quando farejam sangue costumam se assustar com tubarões e outros peixões.
Ou o presidente interino se impõe agora, obtendo um mínimo de organização para aprovar alguns projetos no Legislativo e emitir sinais de governabilidade, ou não vai chegar do outro lado do rio.