O fantasma da manifestação que não houve é hoje, para Jair Bolsonaro e seus seguidores, a melhor saída para a enrascada em que se meteram. Antes mesmo do agravamento da crise do coronavírus, o movimento anti-Congresso e anti-Supremo convocado para o próximo domingo já dava sinais, nas redes e nas desavenças entre seus organizadores, de que caminhava para o esvaziamento e o fracasso.
O coronavírus foi, portanto, uma boa desculpa. Bolsonaro apareceu numa live de máscara e depois foi à TV, em grande estilo, fazer seu jogo duplo: desaconselhou as pessoas a irem às ruas para as manifestações (que disse que não convocou) mas, ao mesmo tempo, enalteceu os movimentos e criticou os políticos que seriam contrários a ele. Ou seja, resolveu o problema do protesto fadado ao fracasso sem perder o discurso.
O problema de Bolsonaro agora é sustentar esse discurso. Tudo indica que a crise do coronavírus — e das bolsas, do dólar, do petróleo — desgastará ainda mais a já abalada imagem do presidente da República. A bolha bolsonarista, que graças ao apoio de empresários e seus incentivos financeiros e à agressividade nas redes vem dando a impressão de ser maior do que é, tende a diminuir.
É bem possível que, para alívio das lideranças do Congresso — que morrem de medo dos perigosos pixulecos e quetais — vá ficando cada vez mais difícil, para o bolsonarismo, mostrar poder nas ruas.