Com sua notável capacidade de arrumar confusão e produzir crises em série, o presidente Jair Bolsonaro e família acabaram criando um ambiente razoavelmente ameno para o próximo capítulo da saga política brasileira, que pode ser a saída do ex-presidente Lula da cadeia.
Às vésperas do encerramento, provavelmente nesta quinta, do julgamento sobre a prisão após a segunda instância pelo STF, as atenções estão voltadas para o porteiro do condomínio do presidente, para seu destempero em relação ao governador do Rio, para o video do leão cercado pelas hienas, para a defesa do Zero Três de um novo AI-5, para a briga do PSL, etc etc etc…
Boa parte da mídia, defensora da Lava Jato e da punição a Lula até debaixo d’água, já admite com naturalidade que o resultado do julgamento deverá ser a mudança na interpretação do STF , que passaria a considerar o trânsito em julgado das sentenças como marco para prisão dos condenados. E daí?
Há um ano, ou mesmo há alguns meses, antes de Bolsonaro ficar à vontade para ser ele mesmo no governo, e antes de as águas do Intercept passarem por debaixo da ponte da Lava Jato, boa parte dos ministros da mais alta Corte do país parecia ter medo de tomar qualquer atitude favorável ao ex-presidente – ainda que com fundamentos jurídicos. Temiam, claramente, manifestações e ataques nas redes organizados pelos bolsominions e outras represálias.
No fim da semana passada, o presidente do STF, Dias Toffoli, enfrentou uma manifestação de lavajatistas a favor da segunda instância. Tinha 15 pessoas. Não se tem notícia também de grandes mobilizações nas redes ou na Praça dos Três Poderes para o julgamento da semana.
O bolsonarismo anda muito ocupado com outras coisas, e o público em geral parece sem ânimo para ir às ruas defender suas causas e personagens.