A pancadaria que o governo Michel Temer está levando por causa da nomeação ministerial de Moreira Franco não chega aos pés daquela que caiu sobre Dilma Rousseff quando tentou nomear o ex-presidente Lula para a Casa Civil. A mídia bate, e lembra que o agora ministro com foro privilegiado foi mencionado 34 vezes nas delações da Lava Jato, mas acolhe o argumento de que ele já era da copa e da cozinha do Planalto e que foi apenas formalizado no primeiro escalão. Nada indica que o episódio terá o mesmo desfecho do anterior, quando Lula foi proibido pelo ministro do STF Gilmar Mendes de assumir o cargo. Dilma ainda está sendo processada por tentativa de obstrução de justiça.
O clima hoje no establishment político, jurídico e econômico é muito diferente. E, no Brasil, isso muda tudo. Se depender de Michel Temer, então, nem Moreira e nem ninguém vai perder o cargo quando aparecer na delação da Odebrecht, que já entrou em estado de vazamento e, mais dia menos dia, terá seu sigilo suspenso.
Michel embalou a nomeação de Moreira num pacote reluzente de boas notícias, em meio às comemorações da vitória nas eleições para as mesas do Congresso, à nomeação do tucano Antonio Imbassahy e, finalmente, à entrada de uma mulher negra no primeiro escalão, na politicamente correta pasta dos Direitos Humanos. Obviamente, não escapou ao desgaste – e o que muitos aliados dizem nesse momento é que a posse de Moreira acabou empanando o brilho do resto da agenda positiva da semana.
Mas nesta sexta Michel deu, acima de tudo, uma sinalização aos navegantes da política e ao distinto público: já que é inevitável, que venham as delações da Odebrecht, pois o Planalto está disposto a enfrentá-las sem piscar, ou piscando o mínimo possível.
A estratégia governista é reforçar a narrativa de que delação não é prova, e por isso não se justifica tirar ninguém do governo por ter sido mencionado. Até porque o próprio Michel Temer, sabe-se, figura nos depoimentos. Se ele demitir ministros por causa disso, é natural que, em dado momento, alguém apareça para perguntar se ele também não tem que sair.
Vamos ouvir muito dos governistas a frase de que investigado não é condenado, que servirá também como reação à muito provável abertura de inquérito contra integrantes do governo, a pedido do Ministério Público. E, embora a palavra “celeridade” esteja cercando o noticiário sobre o novo relator, Edson Fachin, é bom não alimentar ilusões: todo mundo conhece o ritmo de investigação,denúncia e julgamento do STF nesses casos. Com Teori, Fachin ou quem quer que seja. Dá tempo de acabar o governo Temer e, quem sabe, o do seu sucessor, antes que algum desses políticos seja condenado.
A estratégia está montada. Se vai dar certo, são outros quinhentos. O governo pode até controlar o Congresso, e ter razoável confiança no ritmo lento do Judiciário, mas há um fator que está sempre fora de controle: a opinião pública e sua reação às revelações mais cabeludas das delações.