Ciro Gomes continua em campanha, com a cabeça em 2022 – ou até na possibilidade de uma disputa antes disso, pois o governo Jair Bolsonaro nem nasceu ainda, mas alguns não apostam na sua longevidade. Independentemente da governabilidade de Bolsonaro, que poderá até garantir-lhe um mandato inteiro, parte do sistema político já se comporta de acordo com os próximos cálculos eleitorais, e esta terá sido a principal razão para os escassos apoios das forças de centro-esquerda derrotadas no dia 7 de outubro ao candidato do PT.
Vendo a larga distância de pontos percentuais entre Bolsonaro e Haddad, os donos do cálculo político resolveram não suar a camisa para tentar eleger o petista, ainda essa diferença não fosse intransponível. Ciro Gomes, Marina Silva, Fernando Henrique Cardoso e outros poderiam, sim, ter liderado uma frente democrática que, crescendo e aparecendo, teria alguma chance de mudar os rumos da campanha. Não o fizeram, e agora, a cada dia que passa, a duas semanas do segundo turno, vai ficando mais difícil.
As lideranças da centro-esquerda preferiram passar à história como quem sai de fininho – e, com isso, tornarem-se responsáveis também pela incerteza que vem aí – com a justificativa do ressentimento político pelas rasteiras que levaram do PT. É, óbvio, porém, que não se trata só disso. Cada um pensa no seu interesse. Se Fernando Haddad tivesse passado para o segundo turno em primeiro lugar talvez a coisa não fosse bem assim.
O interesse de Ciro é continuar candidato à presidência da República pelos próximos quatro anos. Daí o “apoio crítico”do PDT a Haddad, a ida do próprio Ciro para o exterior e as palavras destemperadas de seu irmão, Cid, contra o PT e Lula num ato convocado no Ceará para… dar apoio a Hadad! Bem se vê que é um apoio mais do que crítico, é um ”apoio agressivo”, se é que isso pode existir.
Mas os irmãos Gomes são sempre surpreendentes. Ninguém deve se espantar se Ciro retornar ao Brasil na quinta-feira e participar de algum evento com Haddad, defendendo ardorosamente que seu eleitor não vote em Bolsonaro. Principalmente se vingar a negociação desesperada que alguns petistas como Jaques Wagner estão propondo: assegurar apoio ao pedetista numa candidatura à presidência em 2022, com o compromisso de que Haddad não disputaria a reeleição.
Parece conto da carochinha, e é. Mas, se as coisas caminharem como parece que estão caminhando, com uma possível derrota do petista, pode não fazer tanta diferença assim. E Ciro ainda poderá cobrar o descumprimento da palavra do PT em 2022, quando Haddad, que mesmo perdendo agora se consolida como a cara nova do partido, obviamente será candidato à presidência da República.