Centro e direita não-bolsonarista agora querem impeachment

Gilberto Kassab - Foto Orlando Brito

Com os avanços da CPI, das manifestações de rua e as pesquisas que dão o ex-presidente Lula na liderança para 2022, o centro e a direita não-bolsonarista resolveram entrar de vez na canoa do impeachment. A sinalização foi dada no fim de semana por dois caciques importantes desse campo: o presidente do cada vez mais robusto PDS, Gilberto Kassab, que em entrevista ao Globo disse que as condições para o impeachment estão ficando mais favoráveis; e o  ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em seu artigo quinzenal nos jornais tratou do assunto em tom de alerta a Jair Bolsonaro.

Como é do feitio dos dois, FH e Kassab trataram do assunto em tom moderado. Mas, para bom entendedor, meia palavra basta. Os últimos movimentos do espectro político, que também levaram  aos protestos de rua do fim de semana representantes do PSDB, do Cidadania e do Avante, entre outros, não deixam dúvidas. O centristas que não são do Centrão têm como projeto político a derrubada de Bolsonaro na tentativa de obter um lugarzinho no segundo turno e tentar derrotar Lula – o que pode ser difícil se o atual presidente se mantiver no poder e chegar à campanha de reeleição.

Jair Bolsonaro e Arthur Lira – Foto Orlando Brito

Apesar de o presidente da República andar cada vez mais acuado pelas investigações da CPI, pelos protestos e pela queda de popularidade, porém, não se vê ainda a onda do impeachment se avolumar perto da praia. Voltou a ser uma possibilidade mais razoável, mas ainda persistem dois fatores contrários: o presidente da Câmara, Arthur Lira, que parece continuar inabalável na decisão de não retirar qualquer dos pedidos da gaveta; e o fator tempo.

Ainda que começasse hoje, um processo de impeachment levara meses para se concluir – ainda mais no ambiente ameaçador-golpista que o bolsonarismo montou. Desengavetado um pedido na Câmara, ele teria que ser analisado por uma comissão, que levaria de 30 a 60 dias para concluir seus trabalhos. Depois, teria que ser  aprovado por 342 deputados, número que, hoje, seus defensores não possuem – bastaria a Bolsonaro ter 171 a seu favor.

Plenário da Câmara, presidida por Eduardo Cunha, aceita processo de afastamento de Dilma Rousseff – Foto Orlando Brito

Nesse ponto do trajeto, o presidente seria afastado do cargo, mas ainda não em definitivo. O processo teria que seguir para o Senado,  instância do julgamento final da perda de mandato do presidente, que levara também mais alguns meses. Até lá, estaríamos às vésperas da campanha eleitoral. O impeachment de Dilma, apoiado com vontade pelo establishment e pela maioria parlamentar de Michel Temer, por exemplo, levou nove meses para ser concluído, do momento em que Eduardo Cunha autorizou a abertura de processo, em dezembro de 2015, ao julgamento final do Senado, em setembro.

A entrada da centro-direita no movimento que as esquerdas vêm promovendo há tempos, e que só agora começa a tomar vulto, portanto, tem um objetivo pragmático e eleitoral. Deixa as forças de esquerda numa saia-justa, porque a esta altura não ˙há como retroceder.

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