A três meses das eleições, o tempo ruge. Não dá mais para ficar fazendo joguinho de efeito, manobras protelatórias e truques destinados a engordar cacifes pessoais e partidários em movimentos que claramente não vão ter consequência. Está chegando a hora da verdade para todo mundo, e enquanto a bola rola nos gramados russos, os destinos são decididos por aqui.
Vai ficando claro, por exemplo, que o ajuntamento que se denomina Centrão – DEM, PP, PRB, Solidariedade e, dependendo do humor do dia, o PR – vai rachar. Se Geraldo Alckmin estivesse com um desempenho melhor nas pesquisas, iriam todos para o colo tucano. Só que não está, e já vai ser um custo convencer o DEM a entrar na aliança, com a desistência de Rodrigo Maia – cuja candidatura sempre se destinou a valorizar seu passe e o de seu partido.
Se o DEM indicar o vice de Alckmin, e ainda levar outras vantagens como a garantia de apoio à reeleição de Maia no comando da Câmara, é possível que vá. Mas dificilmente levará o PP, por exemplo, que está mais próximo de Ciro Gomes ou da opção de não ter candidato a presidente nenhum – fica livre nos estados e depois, como sempre, negocia apoio ao vencedor.
O PR, por sua vez, está entre os dois extremos, e nada desconfortável com isso. Nos últimos dias, recebeu ofertas quase irrecusáveis de Jair Bolsonaro, que sabe ser decisiva a aliança para aumentar seu tempo na TV. Prometeu a vice para Magno Malta e, diz-se, muito mais. Mas o partido de Valdemar Costa Neto, também cortejado por Alckmin, guarda na manga a possibilidade de um acordo com o PT – que poderia dar a vice da chapa de Lula ao empresário Josué Gomes e, mais adiante, quem sabe, talvez até a cabeça de chapa se a candidatura do petista for mesmo barrada.
Até porque os petistas começam a achar que não vão dar em nada as articulações para se aproximar do PSB. Nos últimos dias, avançaram as conversas dos caciques socialistas com Ciro Gomes, e a negociação prevê a vice para o mineiro Marcio Lacerda – o que, do outro lado da moeda, beneficiaria indiretamente o PT em Minas, desistindo de sua candidatura a governador.
Marina Silva, por sua vez, parece perdida na floresta das alianças e não achou ainda rumo que lhe dê mais tempo na TV e estrutura partidária. Mas continua bem nas pesquisas, segurando no gogó um segundo lugar.
Por isso, enquanto a bola rola, é bom prestar atenção na articulação capitaneada por Fernando Henrique Cardoso, que em seu artigo nos jornais deste domingo, voltou a exortar as forcas de centro a se unirem já no primeiro turno para evitar, no segundo, uma escolha entre “o pior e o menos pior”. Vale lembrar duas coisas: 1) FH vive elogiando Marina; 2) Marina, pela primeira vez, mandou representante à reunião, quinta passada, para lançamento do manifesto desse grupo centrista – que não é o Centrão. Te cuida, Geraldo Alckmin…