É compreensível, e até louvável, que um pré-candidato manifeste publicamente ter dúvidas sobre a candidatura presidencial. Denota responsabilidade, percepção da seriedade da missão, sinceridade de propósitos. Só que, em política, cavalos selados não passam duas vezes, e costumam ser bem velozes. Ou você pula em cima e monta na hora certa, ou arrisca-se a perdê-lo, e até a levar um tombo feio.
Joaquim Barbosa, por todas as características que reúne, que vão da origem humilde à posição inequívoca de combatente contra a corrupção – e, agora, um partido com estrutura razoável – tem à sua frente uma rara conjunção de fatores favoráveis a uma candidatura bem sucedida à presidência. Tem muita chance, desde que a aproveite.
Por isso, dentro e fora do PSB, os torcedores da candidatura do ex-ministro do STF acham que a indecisão por ele demonstrada em sua passagem por Brasília na quinta-feira vai ser resolvida logo. Até porque existem duas hipóteses: ou ele está indeciso mesmo, ou está usando esse discurso para se preservar até que o PSB consiga fazer um acerto interno e convencer seus setores mais resistentes.
Nos dois casos, não há tempo a perder. A roda da sucessão presidencial começou a rodar e a hora de entrar é agora. Se deixar dúvidas no ar, perde alianças políticas e apoios em setores importantes da sociedade, que naturalmente vão se voltar para outros candidatos. E o PSB sabe que precisa definir logo se terá ou não candidato, sob o risco de se ver by-passado por fatos concretos nas alianças regionais.
A reunião com Barbosa deixou alguns caciques do partido meio desconcertados. Perceberam o tamanho do desafio que será conviver com o jeito não-político de ser do ex-ministro do STF – que pode ser, paradoxalmente, seu maior defeito e sua maior qualidade numa campanha. A resposta que deu aos jornalistas ao ser indagado sobre possíveis prejuízos à campanha provocados pela demora – “Who cares?”- não foi considerada das mais felizes.
Há novas pesquisas presidenciais entrando em campo, inclusive por encomenda do PSB. A expectativa da torcida é de que, com mais uma ou duas rodadas mostrando um bom desempenho de Joaquim Barbosa, o candidato saia da casca.