O ministro Henrique Meirelles é, até agora, candidato de si mesmo. Nem o seu partido, o PSD, aposta no crescimento dos seus 1% de preferências nas pesquisas – e lhe deu oito dos dez minutos de seu programa na TV nesta quinta sobretudo porque, como a maior parte das forças da centro-direita, ainda está perdido e não achou o rumo de casa na eleição presidencial.
Meirelles também não é o candidato do Planalto, cujo apoio ele busca conquistar com a promessa de que defenderá o “legado” do governo daqui para frente. Até defendeu, na TV, embora não tenha pronunciado as palavras Michel Temer. No entorno presidencial, porém, a avaliação é de que, se as coisas melhorarem a ponto de dar viabilidade a um candidato do governo, este seria o próprio Michel, usando o vasto tempo de televisão do MDB para defender a si e à sua administração.
Michel sabe que não ganharia a reeleição, mas poderia deixar seu partido na cômoda situação de sempre: dividido, desta vez entre Geraldo Alckmin, que deve acabar sendo o candidato do centro, e Luiz Inácio Lula da Silva, o líder nas pesquisas, que já arrebanhou o apoio dos neo-emedebistas do Nordeste. Depois da eleição, negocia-se com quem ganhar. Até porque, seja quem for, vai precisar do MDB (é estranho pra caramba escrever hoje em dia esta palavra se referindo a estas pessoas…) para governar.
Esta é uma alternativa que cresce a cada dia nessa temporada de indefinição em torno da eleição presidencial, que começa com a incerteza a respeito da presença do favorito das pesquisas na cédula. Até que isso esteja mais ou menos claro, ninguém terá jogado todas as cartas na mesa.
Mas, se Meirelles não é o candidato do Planalto, e seu açodamento político pode acabar prejudicando a reforma da Previdência, por que Temer não dá uma chamada no ministro para que ele bote o pé no freio, pelo menos até fevereiro?
Porque, ao fim e ao cabo, a candidatura Meirelles tem uma função importante: bater nos tucanos de Geraldo Alckmin, evitando que ele se sinta o rei-da-cocada-preta no espectro das forças de centro, tornando o governo caudatário de sua candidatura. O recado claro é que o PSDB terá que pedir muito e valorizar bastante o possível apoio do MDB, se é que ele vai existir, ou setores do partido.
E o PMDB mostra que mudou de nome mas não de hábitos, mantendo, como sempre nos últimos anos, um pé em cada canoa. Pronto para sugar o máximo de cada lado e, no final da história, ficar com o vencedor…