Em momentos difíceis, quando tudo dá errado, é preciso manter a cabeça fria. Acima de tudo, evitar o desespero que pode levar a atos impensados, decisões insensatas, soluções estapafúrdias. Não, não estou escrevendo um livro de auto-ajuda política. É só senso comum, que o PT parece ter perdido ao defender o boicote às eleições do ano que vem caso o ex-presidente Lula tenha sua candidatura cassada por uma condenação em segunda instância.
Uma reação extrema, ainda não tomada oficialmente, mas debatida hoje por seus dirigentes – talvez mais como um gesto para pressionar a Justiça e forçar uma reação mais forte de seus eleitores antes que o TRF-4 condene Lula. A justificativa é de que, sem outro candidato com chances de ganhar, o PT prefere liderar uma campanha pelo boicote, denunciando o processo como mais um golpe, fazendo barulho internacionalmente e levando até a uma convulsão social.
Trata-se, porém, de uma estratégia insensata e irresponsável. Já imaginou se, Lula condenado e fora do páreo, o PT boicota as eleições, não apresenta candidatos a presidente e nem ao Congresso, e não tem convulsão social nenhuma?
Digamos que os protestos sejam rarefeitos – afinal, a população não está nesse entusiasmo todo com a política – , a reação internacional não tenha maior repercussão e as eleições transcorram normalmente. Será o fim do PT. Os outros partidos elegerão ocupantes para os cargos que o PT não disputou e a vida segue. Até porque alguns petistas terão debandado antes e se candidatado por outras legendas. A vida continua sem o PT.
Seria um triste e melancólico final para a única novidade – para o bem e para o mal – da política brasileira nas últimas décadas, para a primeira legenda que chegou perto dos pobres e tirou milhões da miséria na história elitista do Brasil.
No meio do turbilhão, é possível que algumas vozes sensatas – e a do ex-governador Tarso Genro é uma delas – se façam ouvir. Até porque, apesar de tudo, Lula ainda não está fora da eleição do ano que vem – e pode não ficar, apesar das previsões.
Se Lula ficar inelegível, caberá ao PT apresentar um outro candidato ou apoiar um nome do campo da esquerda. Para perder? Sim, e daí? Pode ser um necessário exercício de humildade, talvez finalmente o momento da catarse, para quem reluta em reconhecer os erros relacionados à corrupção mas tem a responsabilidade de dar continuidade a um legado de resgate social.