Ninguém renuncia em 24 horas, e era evidente – como, aliás, registramos aqui na quarta-feira à noite – que Michel Temer iria lutar para ficar naquele gabinete do terceiro andar do Planalto. E não só pela beleza da vista da Praça dos Três Poderes ali na frente. Temer está convencido de que, se renunciar, pode ir parar na cadeia – pior de tudo, em Curitiba, nas mãos de Moro, já que perde a prerrogativa de foro.
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É preciso lembrar também que Temer, apesar da nítida debandada de sua base, não é só Temer nesta hora. Ele é chefe de um grupo político, uma parcela do PMDB que, tanto quanto ele, teme que a derrocada vá resultar em cadeia. Só no entorno palaciano do presidente, estão investigados, na mesma situação de não poder perder o foro do STF, os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. Sem falar no deputado agora afastado Rodrigo Rocha Loures. Em casa, portanto, a pressão é contra a renúncia, pela resistência, embora nos meios politicos e midiáticos o movimento seja exatamente o contrário.
Temer começou o segundo dia de batalha com alguns ganhos, como o fato de ter evitado o desembarque imediato do PSDB, que seria o tiro de morte em seu governo. Conseguiu também emplacar em alguns setores da imprensa a narrativa de que as gravações de sua conversa com Joesley Batista não eram lá essa Brastemp toda e parece que até o mercado acreditou, pois amanheceu mais calmo, bolsa subindo e dólar caindo. É a última tentativa de sobrevivência do presidente, que se amarrou à agenda econômica como bóia de salvação.
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É provável, porém, que se trate de questão de tempo, e que o desfecho, via renúncia ou cassação de chapa pelo TSE, venha em mais alguns dias. O movimento de seus acusadores, e da própria mídia, agora, é focar no conjunto da obra, mostrando seguidos depoimentos, gravações e investigações referentes a outros episódios em torno do presidente. Não há quem resista.
O embate hoje é este, entre a morte súbita e a agonia da doença prolongada. Michel Temer perdeu as condições de governabilidade, mas ainda não morreu.