Jair Bolsonaro montou num cavalo e, ao lado de um punhado de ministros cavaleiros e amazonas, desfilou sábado pela Esplanada entre faixas que o autorizavam a dar um golpe, defendiam intervenção militar e agrediam o STF e s CPI da Covid. No palanque, o presidente repetiu a lengalenga sobre os perigos do voto na urna eletrônica e as chances de fraude na eleição de 2022, e foi explícito na previsão: seu principal adversário hoje, o ex-presidente Lula, a quem chamou de “canalha”, vai ganhar.
“Se não tivermos voto auditável, esse canalha, pela fraude, ganha as eleições do ano que vem”, disse Bolsonaro. Algum auxiliar leal poderia dizer a ele que vitória de adversário não se prevê nem de brincadeirinha, e que, na verdade, ele está é ajudando Lula a se consolidar como dono de uma vaga certa no segundo turno de 2022. Mais do que isso, está colaborando para que o petista, a quase um ano e meio do pleito, adquira uma aura de vencedor — o que é ótimo para ele.
Na parte sobre a fraude, vai ser difícil a maioria dos brasileiros acreditar. O voto digital vem sendo usado no país há mais de duas décadas, sem qualquer caso confirmado de fraude. Os brasileiros, mesmo os mais pobres, estão acostumados e pegar dinheiro nos caixas eletrônicos e a fazer operações bancárias pelo celular. Confiam no sistema digital e na urna eletrônica. E o que fica, para a maioria, do blablablá de Bolsonaro é isso: está morrendo de medo do Lula.
A conversa de quem prevê uma fraude eleitoral na bola de cristal é risível, e dificilmente vai colar. Alertada, a Justiça Eleitoral já está fazendo uma campanha sobre as maravilhas do voto digital. Os políticos, todos eles eleitos pelo sistema, também estão preventivamente trabalhando por sua manutenção. A tramitação de um projeto de emenda constitucional instituindo o voto impresso na Câmara, patrocinada pelo presidente Arthur Lira, é apenas uma encenação. Todo mundo sabe que não vai passar.
O que resta do discurso patético de Bolsonaro contra o voto eletrônico é sua previsão da vitória de Lula. Que, aliás, Ciro Gomes está ajudando muito a consolidar nas entrevistas em que bate no petista e diz que de disputará o segundo turno com ele, considerando Bolsonaro fora do jogo. Reforça a aura do petista, que as pesquisas de hoje reforçam, mas que, com tanta antecedência, não garantem.
De qualquer forma, Lula pode agradecer a Ciro. E o país também: um embate entre Lula e ele será, sem dúvida, muito melhor como perspectiva de futuro para a nação brasileira do que uma decisão entre o atual presidente e o ex.