Não contente em brigar com Daniela Mercury e Caetano Veloso, Jair Bolsonaro brigou com todo o Carnaval, e com muito mais, ao postar no twitter um vídeo baixaria – obviamente uma exceção em meio aos milhares de foliões que brincaram pelo país – como exemplo do que “tem virado” os blocos de rua. Não é lícito dizer que nunca antes tivemos um Carnaval assim, porque Carnaval é assim mesmo. Mas é possível dizer, com segurança, que nunca antes tivemos um presidente tão sem noção.
Falta, no mínimo, inteligência emocional ao governante que não sabe lidar nem relativizar as críticas que recebe, sobretudo no clima carnavalesco. Não há presidente que escape da sátira política nos blocos e nas escolas de samba. Passada a quarta-feira, a vida segue. Quem apoiava o governo continua apoiando, quem não apoiava continua não apoiando.
É possível, contudo, que Bolsonaro saia chamuscado de seu primeiro carnaval presidencial sem nem ter saído de casa. O presidente tem mais de três milhões de seguidores no Twitter, e é certo que boa parte deles deve ter ficado chocada com o vídeo – e, sobretudo, com a atitude do presidente da República de postá-lo, alheio à liturgia do cargo e despido de qualquer vestígio de decoro.
Diz-se, em alguns setores, que as redes sociais elegeram Bolsonaro. Mas agora são elas, onde mantém a mesma estratégia do confronto, que podem representar sua perdição. Ao reagir emocionalmente, bater boca com jornalistas e internautas e postar vídeos como o de ontem, numa tentativa infantil de desmoralizar o Carnaval, o presidente não ganha nada.
Bolsonaro só perde, mostrando despreparo para exercer a função que, acima de tudo, exige equilíbrio e serenidade. E assustando aos que, mesmo indiferentes ao Carnaval, sabem que, sem essas características, ninguém monta base parlamentar para aprovar qualquer coisa no Congresso.
Chefe de Estado não bota vídeo pornográfico no twitter. Ponto final.