Sabemos todos que Brasília, assim como boa parte das cidades-sede do poder desde a Roma Antiga, é “o paraíso dos lobistas e espertalhões”, como disse Jair Bolsonaro em sua primeira entrevista ao sair do hospital. A questão, para quem governa, é o que fazer com os lobistas e espertalhões. Você não precisa recebê-los no ministério, porque são perceptíveis a quilômetros de distância.
Em recebendo – o que só deveria ser feito com previsão na agenda oficial – , você também não tem˙necessidade de aceitar o que oferecem, muito menos de dar tapinhas nas costas, confraternizar e ainda gravar tudo em vídeo. Ainda que você, ingênuo ministro, só descubra aos 45 minutos do segundo tempo ter entrado numa roubada, a porta do gabinete é a serventia do decoro. Pode dizer que tem um problema ali para resolver e sair da sala – sem, obviamente, dizer no vídeo que acabou de assinar um memorando de entendimentos que não assinou.
Mais uma vez, Pazuello fez tudo errado – ainda que não tenha acertado qualquer propina com os lobistas que tentaram vender a Coronavac pelo triplo do preço do Butantan. Coisa, aliás, que segundo seu chefe só se faz pelado na piscina. O ministro, no mínimo, mentiu e protagonizou uma trapalhada.
O que mais espanta nesta segunda, contudo, já não é mais o comportamento do ex-ministro da Saúde, mas sim o de seu chefe, que mal saiu do leito hospitalar e correu para defender o auxiliar. Nunca antes neste país um presidente saiu em defesa de um ministro acusado de malfeitos com tanta prontidão. Na verdade, o que o manual aconselha é que, por mais querido que seja o auxiliar, o chefe da nação se distancie temporariamente do assunto até as coisas serem esclarecidas. É básico.
Por que então corre Bolsonaro para defender Pazuello com tanta veemência, arriscando-se a aumentar seu desgaste político? Porque, a esta altura, os destinos dos dois estão mais do que ligados, numa espécie de abraço de afogados.
Pazuello “matou no peito” constrangimentos e acusações demais para poupar o chefe – na última vez, para livrá-lo da acusação de prevaricação por nada ter feito diante da denúncia de irregularidades no contrato da Covaxin levadas pelos irmãos Miranda. A explicação oficial, que só pode ser desmentida por uma pessoa, é de que o presidente passou o assunto para o ministro da Saúde , e se alguém não tomou providências, foi ele.
Esse é apenas um dos muitos casos em que o ex-ministro da Saúde, brindado com um novo cargo no Planalto e elogios constantes, na veia, pode enrolar o chefe e seu governo. Basta abrir a boca e deixar de ser o homem-bomba que não estourou. Bolsonaro defende o general Eduardo Pazuello porque tem um tremendo rabo preso com ele.