O presidente Jair Bolsonaro tentou hoje tomar distância do caso Queiroz, que voltou ao noticiário com toda a força nesses últimos dias do ano. Indagado pelos jornalistas na porta do Alvorada, disse não ter nada a ver com as suspeitas contra o filho e que não fala sobre os “ problemas dos outros”. É o caso de se perguntar até quando.
Esse não é o padrão de comportamento na família Bolsonaro. O presidente costuma correr em socorro dos filhos em todas as ocasiões, ainda que comece declarando que não tem nada com isso. Até porque tem. Fabrício Queiroz não é ligado apenas a Flávio Bolsonaro, que herdou a amizade e os esquemas eleitorais do pai.
O cheque depositado por Queiroz na conta da primeira-dama — segundo o presidente, em pagamento a um empréstimo — não é o único elemento de ligação entre o presidente e o caso.
O simples fato de haver diversos parentes da ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina, entre os funcionários que participariam do esquema da “rachadinha” no gabinete de deputado de Flavio só se explica se tiver havido algum tipo de interferência do hoje presidente em favor de sua contratação. Que razão teria o então deputado para contratar os parentes da ex-madrasta?
Flavio e seu advogado vêm frequentando o Alvorada nos últimos dias, obviamente para tratar do assunto com Bolsonaro. Tudo indica que dificilmente o presidente da República venha a ser processado ou punido — para começar, o caso teria que vir para o STF — pela prática de “rachadinha”no gabinete do filho. Mas investigações desse tipo são novelos que vão se desenrolando, e os fios que puxam crimes como lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa muitas vezes acabam em nós em torno de outras pessoas.
A esta altura, todos os esforços da família e do governo vão no sentido de separar as coisas para preservar o presidente da República — ainda que seu filho venha a ser sacrificado. Mas ninguém garante que Bolsonaro conseguirá se descolar do caso Queiroz.