A ressurreição do carnaval de rua nas principais cidades do país é coisa de alguns anos para cá, mas 2017 marcou uma verdadeira explosão: milhões foram às ruas em todo o país, com alegria, bom humor, relativa ordem e certas pitadas de política. Nunca ficou tão claro o contraponto entre o carnaval da população e o carnaval espetáculo dos grandes desfiles das escolas de samba, que hoje em dia encanta mais os turistas e afasta os locais, pelo preço e pela complexidade do aparato.
Aliás, os maiores “micos” deste ano tiveram inesperadamente como palco a superproduzida Sapucaí, com acidentes envolvendo carros alegóricos e ferindo dezenas de pessoas. É lamentável, mas acontece. O que salta aos olhos nesse carnaval da recessão – o do ano passado foi o do impeachment – é a animação e o bom humor com que tanta gente foi para a rua esquecer o desemprego e outras agruras.
Esquecer? Aí é que está. Está ficando difícil. A politização dos blocos envolveu uma minoria, e estamos longe de imaginar o que se passa na cabeça de quem teve ânimo para deixar os problemas de lado e sair para sambar. Obviamente, a maioria ficou em casa. Mas é possível supor que as ruas talvez não estejam tão apáticas como se pensava.
Quem sabe a ausência do povo nas ruas nos últimos tempos pré-carnavalescos se deva mais à falta de apelo de quem convoca – à direita e à esquerda, todos cheirando a mofo – do que à falta de vontade de protestar. Pelas dúvidas, vale prestar atenção nas duas convocações previstas para o pós-carnaval: dia 15 de março, à esquerda, e dia 26 de março, à direita. Quem sabe alguém injeta alguma animação carnavalesca nos movimentos de rua.