A sorte de Michel Temer é que, até os tucanos conseguirem um entendimento interno em torno da decisão de deixar o governo – e suas três pastas – seu mandato de dois anos e meio já terá acabado. Mas não há como ignorar o crescente mal estar entre o Planalto e o PSDB. Entrevista do secretário e dileto amigo de Temer, Moreira Franco, hoje na manchete do Estadão, já acirrou os ânimos no ninho e fora dele.
Em tese, Moreira vem rebater as críticas do tucanato aos recuos do governo em medidas do ajuste fiscal – o último deles, no item que limitava os aumentos ao funcionalismo estadual. Embora claramente derrotado nessa questão, o ministro Henrique Meirelles, corporificou esse recuo, mais ainda agora, que Moreira atribuiu as reações tucanas à questão política ao afirmar que o colega da Fazenda está sendo vítima de manipulação eleitoral.
De fato, por trás da irritação do PSDB, que saltou aos olhos também em artigo de Aecio Neves na Folha desta segunda, está a possibilidade de Meirelles vir a ser o candidato do governo em 2018 – quando o próprio tucanato tem no mínimo três nomes a oferecer.
Não se pode ignorar, porém, que há algum fundamento real na preocupação dos que temem ver as medidas do ajuste fiscal serem abrandadas até não mais surtirem qualquer efeito. Essa discussão seria inclusive legítima se já não estivesse contaminada pelas “manipulações” eleitorais.
O governo Temer nem efetivo ainda é, mas já se enroscou numa confusão que, no limite, pode botar tudo a perder. Os tantos candidatos que andam por aí deveriam se lembrar que, se não se juntarem num esforço para tirar o país do buraco, serão todos, igualmente, reduzidos a pó.