Assessores do Planalto, de qualquer presidente da República, costumam ficar preocupados com pesquisas favoráveis quando distantes da eleição e apontando patamares ainda modestos de aprovação, de menos de 40%. Com razão. Elas podem fazer mais mal do que bem, inflando o ego do governante e o levando a subir num perigoso salto alto, adotando comportamento soberbo e arrogante, que pode resultar num escorregão e na despencada. Esse é hoje o maior medo de aliados de Jair Bolsonaro.
Cinco pontos percentuais a mais no nível de bom e ótimo, e dez a menos no de ruim e péssimo refletem um movimento coerente com o pagamento de R$ 600 mensais a 40% da população brasileira. O auxílio emergencial, somado a um comportamento menos encrenqueiro adotado pelo presidente quando viu-se acuado pelo avanço das investigações do caso Queiroz, ajudou a estancar a perda de popularidade de Bolsonaro e parece ter invertido a curva. Pelo Datafolha, a “boca do jacaré” do gráfico fechou de novo.
A mais de dois anos da eleição presidencial, e diante de um roteiro no qual o auxílio não tem condições de se perenizar – ao menos em R$ 600, e para tanta gente -, a pesquisa tem um efeito político-psicológico. Claro, facilita a vida de Bolsonaro no Congresso, sustentando o apoio do Centrão e talvez até atraindo outros parceiros, como o MDB. Reduz o já baixíssimo ânimo da oposição para empreitadas como o impeachment, por exemplo. E até no Judiciário pode ter lá seu impacto, como pode mostrar a rápida decisão de Gilmar Mendes de, na sexta-feira à noite, manter Fabrício Queiroz em prisão domiciliar.
Mas pesquisas dizem muito pouco sobre o futuro, esse depende obviamente do que vai acontecer. O maior temor dos aliados é que o Bolsonaro “paz e amor”, cheio de autoconfiança, suba no salto alto, seja tomado pela soberba e dê lugar novamente ao Bolsonaro encrenqueiro.
Acreditando-se o maior, o presidente escapará à tentação de uma resposta atravessada, ou uma ameaça, a outros poderes por decisões que o desagradem? Dará mesmo as coisas que o Centrão quer ou vai se senti fortalecido para dizer não? Demitirá o ministro ultraliberal da Economia para compor ao lado da turma dos gastos, que tem sido sua companheira inseparável na campanha precoce? Insistirá em suas posições autoritárias por achar que não precisa ouvir ninguém?
Cedo ainda para ter respostas. Mas é disso – muito mais do que do Datafolha – que vai depender o futuro de Bolsonaro.