Pré-candidato do Solidariedade à presidência, o ex-presidente da Câmara e ex-ministro Aldo Rebelo não diz com todas as letras se aceitaria abrir mão dessa postulação para ser vice do candidato tucano Geraldo Alckmin, mas considera “imperativa” a busca de alianças nesta eleição. Aldo, nordestino das Alagoas, é citado por coordenadores da campanha de Alckmin como uma possível opção, ao lado de nomes do DEM (Mendonça Filho) e do PRB (Flavio Rocha), e vem trabalhando por um acordo das forças políticas: “um país desorientado, atolado numa crise profunda, só tem o caminho da união nacional para resolver os graves problemas do momento”, diz ele em entrevista aos Divergentes. Ex-ministro da Defesa, ele faz também duras críticas à intervenção na segurança do Rio, que considera um erro estratégico.
Os Divergentes – Como ex-ministro da Defesa, como sr. vê os resultados da intervenção federal na segurança do Rio? Foi um fiasco?
Aldo Rebelo – Os militares não têm, nem devem ter, preparação para este tipo de tarefa, que é exclusivamente policial. Eles desempenham com competência outras atividades fora de sua missão constitucional, como construir estradas, dar assistência médica nas fronteiras, instalar sistemas de comunicação, combater o mosquito da febre amarela, mas deslocá-los para reprimir a violência extremada no Rio de Janeiro é um erro estratégico. Por mais capazes que sejam os quadros envolvidos, a ação policial exige um treinamento especializado que o militar não tem. A repressão policial ao crime tem um protocolo diferente da ação militar. Ou seja, o militar lançado a uma ação policial sem estar preparado vai agir como militar não como policial. Isso não pode dar certo. Em casos especiais, de eventos internacionais ou Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o emprego das Forças Armadas pode ter eficácia. Na intervenção no Rio de Janeiro, por melhor que as Forças Armadas se saiam, o risco no desempenho da tarefa é muito grande.
P: A fragilidade do governo Temer não colocou os militares de volta ao cenário num papel de relevância excessiva pela primeira vez desde a redemocratização do país? Vê algum risco nisso?
R – A desorientação, a falta de rumo que sacolejam o Brasil para os lados e para trás criam ilusões, propostas esdrúxulas de salvação da pátria. Nesse cenário, surgem vivandeiras para “bolir com os granadeiros”, como disse o marechal Castelo Branco. Até onde sei, os militares permanecem em suas tarefas determinadas pela Constituição, até aceitando, por dever de hierarquia, outras impróprias, como a intervenção no Rio. Grupos de civis sem-noção é que pedem sua intervenção política, mas a isso os comandantes das Forças Armadas já deram um não definitivo.
P- Pela primeira vez o ministro da Defesa não é um civil. Foi um retrocesso?
R – De jeito nenhum. Um ministro militar na Defesa é uma situação perfeitamente normal, encaixada na organização política do Estado. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, é um general. Lá e cá o comandante supremo das Forças Armadas sempre é o presidente da República. O que garante o controle civil do aparelho militar, conceito comum a todos os países desenvolvidos, não é um ministro civil da Defesa, mas o estado de direito, a Democracia, o respeito à Constituição, e, nesse particular, isso está sendo observado no Brasil.
P- O sr foi ministro do Esporte durante a preparação do Brasil para a Copa. Pelo que se vê até agora, a organização da Russia foi melhor do que a nossa?
R – Apesar da oposição política de grupelhos que vociferavam “não vai ter Copa” a Copa Mundo no Brasil em 2014 foi um sucesso em todos os campos, a começar do futebol, que teve jogos de alto nível. A organização da copa deslumbrou o mundo. Os serviços de transporte funcionaram a contento. A torcida lotou os estádios, enfeitou as ruas, cantou o Hino Nacional. Não houve um só incidente sério, mas muita confraternização, com a tradicional alegria e hospitalidade do brasileiro. Estrangeiros diziam: “Toda Copa deveria ser no Brasil.” Já mostramos duas vezes que sabemos fazer Copa, só não soubemos ganhá-la em casa…
P- O sr dialoga à esquerda e à direita, com o Congresso, os militares, o setor agrícola, e hoje é pre-candidato à presidência pelo Solidariedade. O sr aceitaria desistir em nome de uma composição com o PSDB para ser vice na chapa de Geraldo Alckmin?
R – Essa imagem do diálogo decorre não só de uma característica pessoal, mas de um programa baseado na ideia-força da política, que é a negociação. O Brasil sempre precisou e ainda precisa de união para evoluir, às vezes de união entre ideologias antípodas. Isso se deve à compreensão de que nenhuma força política tem condições de empreender sozinha as transformações profundas de que o País tanto necessita para crescer e se afirmar como uma nação próspera, desenvolvida e soberana, com elevado grau de bem-estar material e espiritual de seu povo. Em todas as nossas grandes rupturas históricas houve união de forças heterogêneas, a exemplo do combate à invasão holandesa do Nordeste no século XVII, da Independência, da Abolição, da República, da Revolução de 1930, da redemocratização de 1985.
P- Essa união pode acontecer agora?
R – Pode e deve acontecer. Um país desorientado, atolado numa crise profunda, só tem o caminho da união nacional para resolver os graves problemas do momento e criar um projeto nacional para o futuro. Em vez de cada força política, social ou econômica se encastelar em casamatas sectárias e atirar nos adversários, deveríamos desfraldar a bandeira branca e juntar as armas para fazer o país crescer, acabar com esse desemprego infame de 13 milhões de pessoas, reduzir as desigualdades sociais e aprofundar a Democracia. Que força política é contra isso? O desafio é afinar o método de cooperação para alcançar em conjunto esses objetivos.
P- Mas o sr. não respondeu se aceitaria uma composição com o PSDB para ser vice na chapa de Geraldo Alckmin?
R – Temos uma campanha eleitoral atípica, com nem sei quantos pré-candidatos, que já não gravita em torno da polarização dos últimos pleitos. Logo, a busca de alianças é imperativa. Todo mundo está conversando com quem aceita conversar, mas com o cuidado de não fechar acordos precipitados. O que vai determinar as alianças é o desempenho das pré-candidaturas. Algumas sem futuro ficarão pelo caminho, outras, com mais possibilidades, serão consideradas entre si para um acordo final, de preferência com base em pontos programáticos que visem ao bem do Brasil. Aí chegará a hora de falar de composição. Quando a hora chegar creio que meu nome poderá unir as forças heterogêneas em torno da retomada do crescimento, da redução das desigualdades e da recuperação da esperança.