O baile pré-carnavalesco da República reuniu acusados, acusadores e defensores do alto escalão num restaurante de Brasília, a Trattoria da Rosário – em mais um sinal de que, por aqui, as coisas mudam mas nem tanto assim. Foi o jantar de despedida de Gilmar Mendes e de boas-vindas de Luiz Fux na presidência do TSE, em que confraternizaram ministros do Judiciário e os chefes dos demais poderes, como o presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira.
Ninguém lembrou ali na hora, em alto e bom som, que esses três políticos estão sob investigações do STF, Corte da qual fazem parte Gilmar, Fux e outros convidados. Em clima de cordialidade e amenidades, as rodas de conversa incluíam também os respectivos advogados, inclusive Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos mais aguerridos defensores de políticos acusados na Lava Jato.
Também presente, circulando no salão, estava o ministro do STJ, Hermann Benjmin, que foi derrotado mas não deixou de apresentar, em junho, no TSE, um voto sustentando que Michel Temer deveria ter sido cassado com Dilma Rousseff e não poderia assumir a presidência da República. Os que o derrotaram também estavam presentes. E Temer não parece ter fica ofendido nem com Fux, que apoiou Benjamin em seu voto no TSE.
Nos discursos, Gilmar e Fux falaram de um problema que consideram sério na eleição deste ano, que não contará com doações de empresas, mas apenas de pessoas físicas e com recursos do fundo eleitoral. Diante do grande número de fraudes já ocorridas no pleito municipal de 2016, usando CPFs falsos e outros artifícios, tanto o presidente que ai como o que entra estão preocupados com a falta de estrutura da Justiça Eleitoral para fiscalizar isso.
O outro tema que deu samba na noite, a condenação do ex-presidente Lula, também não apareceu nos discursos – mas esteve presente em especulações em todas as mesas. E com viés de alta, já que naquele dia se noticiava o ingresso do ex-presidente do STF Sepúlveda Pertence – também presente ao jantar – na defesa de Lula.
Quase unanimidade, respeitado nos três poderes e na imprensa, Pertence pode não ter conseguido ainda virar os prognósticos em relação à prisão e à inelegibilidade de Lula, mas os mundos político e jurídico, presentes ao baile, acham que sua simples presença no caso já melhora em muito a situação do ex-presidente.